#RotaFarroupilha: Rio Grande, a Noiva do Mar!



Saímos da Fazenda do Sobrado, em São Lourenço do Sul, diretamente para Rio Grande, onde tínhamos um encontro agendado com a guia de turismo Minéia. 

Rio Grande é uma importante cidade portuária, com um conjunto arquitetônico histórico invejável e com o balneário Praia do Cassino, a maior em extensão do mundo. A Noiva do Mar não nos recebeu com sorrisos, mas com trovoadas e uma persistente chuva de inverno. 


Durante pouco mais de três horas rodamos pelo Centro Histórico, fizemos alguns trechinhos a pé, visitamos o Acervo Histórico Portuário, tudo pulando pocinhas e molhando os pesados casacos de frio. Embora os céus dissessem para desistirmos, enfrentamos o mau tempo para ouvirmos as histórias narradas por Minéia. 

A guia foi gentil e nos cedeu algumas imagens da cidade, num dia mais iluminado. 


Foto: Minéia Silvana 

Historicamente terra de índios Minuanos e Carijós, elevada a condição de freguesia em 1737, já figurava em mapas holandeses algumas décadas antes da chegada dos portugueses. Situada entre a Lagoa Mirim, Lagoa dos Patos (a maior laguna do Brasil) e o oceano Atlântico, se desenvolveu rapidamente a partir de 1720, quando Açorianos provenientes de Laguna/SC começaram a se fixar na região. Para garantia do território tão ao sul foi construído o Forte Jesus, Maria, José. 

Na região sul, onde hoje temos delimitado o Rio Grande do Sul, havia apenas os Sete Povos das Missões, de domínio espanhol. Assim, com o estabelecimento de portugueses na freguesia batizada de Rio Grande se tem a origem da cidade mais antiga do Estado. Com inicio da colonização em 1720, recebeu o título de freguesia em 1737, passando em 1760 a capital da nova Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul. No ano em que a Revolução Farroupilha ganha os campos recebe o título de cidade - 1835. 

Muito antes de se tornar um forte legalista durante a Revolução Farroupilha já enfrentava canhões, quando tomada pelo espanhol Ceballos, juntamente com São José do Norte, em 1763. Expulsos de São José do Norte em 1767, permaneceram os espanhóis com domínio sobre Rio Grande até 1776, quando reconquistada pelas tropas do Império Português. Não havia tranquilidade na região e em 1777 a cidade ficou novamente na iminência de ser atacada, salvando-se de novo embate pela assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, que validou o Tratado de Madrid, que repartilhava as terras do sul do continente entre as Coroas Espanhola e Portuguesa. Ah, certeza de que todos lembram daquelas deliciosas aulinhas de história da meninice, certo? 

Livre a Noiva do Mar cresceu e se fortaleceu, se transformando no principal porto da armada portuguesa no sul. Sua natureza portuária influenciou na formação de seu povo, primeiramente de açorianos, aos quais se somaram portugueses, espanhóis, italianos, alemães, poloneses e libaneses. 

Esse tanto de história está impregnado na rica arquitetura, que se mantém bastante preservada, com muitos prédios sendo ocupados, ainda hoje, pelos poderes públicos. Conta com ferrovia, hidrovia, aeroporto e universidades. 

Fotos? Ah, as fotos! Poucas, nubladas e sombrias, que pouco fazem jus a beleza da cidade. Bom, ao menos, estou comprometida com um retorno para complementar esse post, claro. 


Como apaixonada por arquitetura tenho dificuldades em apontar quais prédios são os mais encantadores - e são muitos, acreditem. 

A Alfândega (1875) é um neo-clássico de grandes dimensões, ocupando um quarteirão. Foi o primeiro ponto de arrecadação dos rendimentos reais do extremo sul do Império.  

 Loja Maçônica União Constante, fundada em 1840, é a mais antiga do Estado. Sua fundação se deu em meio a Revolução Farroupilha e o prédio em estilo gótico guarda em seu interior uma rica decoração, com mármores, móveis e espelhos vindos de Portugal, França e Itália (especialmente Veneza). 

Construído para residência de armador em 1826, o conhecido Hotel Paris além de belos pátios internos, apresenta painéis pintados a óleo sobre couro espalhados pelo forro do saguão e de outros ambientes. 


Foto: Minéia Silvana

Em 1862 foi construído o Sobrado dos Azulejos. Embora esteja escondido pelos inúmeros cabos elétricos e telefônicos, é o único sobrado urbano construído no século XIX em estilo neo-clássico e recoberto de azulejos que ainda existe na região sul do país. Ah, o que a retirada dos fios e uma higienização não fariam por ele?!! 


Foto: Minéia Silvana

O prédio da atual Prefeitura Municipal é dos mais antigos do município, tendo servido de residência de um Comendador. Construído em estilo colonial, em 1895 passa por reformas que lhe dão elementos neo-clássicos. Ele é lindíssimo. 



Há muitos outros prédios, como o Mercado Municipal, que formam o rico Centro Histórico da cidade,  junto ao antigo porto e a hidrovia. A região merece ser explorada a pé, quando se pode ingressar nas dependências públicas de alguns, observar seus inúmeros detalhes externos e driblar com as lentes os fios que os envolvem. 

Rio Grande jamais foi tomada pelos Farroupilhas, como era desejo de Bento Gonçalves e, talvez por isso, as forças republicanas tenham sucumbido. Quando tomaram Porto Alegre, a Capital da província, foi para Rio Grande que os legalistas fugiram, onde se refugiaram e de onde a armada imperial partia para os ataques. Com a manutenção do maior porto em mãos dos imperiais e com a alfândega de Porto Alegre fechada por ordens da Corte, os revolucionários acumularam prejuízos pelas dificuldades de comercialização do charque, sua principal fonte de renda.

Como a vida corre, saltita pelos séculos e, vez ou outra, reserva uma surpresinha, é lá que descansa Bento Gonçalves. Na cidade que tanto desejou tomar para garantir seus ímpetos republicanos recebeu um túmulo belíssimo na praça central - após um concurso, Rio Grande ganhou o direito de guardar os restos mortais desse herói gaúcho. Só uma pegadinha do destino. 


Foto: Gládis Pippi 

Para fugir da chuva nos refugiamos no Acervo Histórico do Porto, num dos armazéns do cais. Pequeno, mas cheio de histórias. Guarda equipamentos usados ao longo dos tempos e vai narrando um pouco da evolução naútica na região. Interessante. 






Depois de mais um tour sobre rodas, a última parada foi na Catedral de São Pedro, mas chegamos bem na horinha da novena. Bom, dá um certo constrangimento circular fotografando no momento das orações. Então, ficamos ao fundo, ouvindo as histórias que a guia tinha para nos contar. 



Erguida em 1755, a Matriz de São Pedro possui formas simples e é a Igreja mais antiga entre Laguna e Montevidéu. Primeira Igreja do Rio Grande do Sul está situada no coração de Rio Grande e passa por obras de restauro. Em sua história muitos acontecimentos, como a tomada da cidade pelos espanhóis em 1763, que saquearam o templo, o invadiam a cavalo para demonstrar sua força e, por fim, o transformaram numa enfermaria de guerra. Nos treze anos da presença castelhana o templo sofreu toda sorte de profanações, o que fez que com a retomada da cidade pelos portugueses fosse ela considerada simbolo da vitória. 

Além dos altares, observamos a remoção de muitas camadas de tintas das paredes, de onde estão surgindo lindos trabalhos de escaiola - pintura que imita mármore polido. 


Depois de um jantar delicioso no Europa Gastrobar e de uma agradável noite de sono no Lira Apart Hotel na praia do Cassino, saltamos cedinho para tomar a lancha que nos levaria para São José do Norte. 

Deixamos o cais tomado pela névoa da umidade que insistia em não abandonar a cidade. Após horas deliciosas em São José do Norte, retornamos para Rio Grande, de onde partiríamos para pernoitar em Pelotas. 



E a cidade nos esperava linda, no horizonte, envolta pelas cores fortes do anoitecer. Qual imagem escolher? Deixo para cada um tal escolha, amei ambas. 




O sol havia afugentado a chuva e tivemos a oportunidade de nos despedir da Noiva do Mar com lindas imagens do cais. 






Bom, não nego minha paixão em fotografar barquinhos. 



A cidade ainda reserva outro passeio, que devido ao mau tempo foi abortado por nossa turma - os Molhes da Barra. Os Molhes (um extremidade em terra e outra no mar) foram uma grande obra de engenharia que, de 1911 a 1919, jogou ao mar 4,5 milhões de toneladas em pedras, extraídas na cidade de Capão do Leão - é a terceira maior obra de engenharia naval do mundo, perdendo apenas para o Canal de Suez e do Panamá. Foram sendo construídos trilhos, para que as pedras pudessem ser transportadas mar adentro. A obra visou garantir a segurança da navegação na área, importante porto brasileiro e que só no ano de 1847 recebeu 668 embarcações de grande calado. Era necessário fixar a barra do canal, evitar o assoreamento e protegê-la das ondas, para que os navios pudessem acessá-la com segurança. Hoje os trilhos transportam vagonetas, sobre as quais os turistas fazem um lindo passeio entre as ondas. 


Foto: Minéia Silvana


Informações:

A cidade oferece muitas possibilidades turísticas, possuindo um acervo arquitetônico invejável, além do antigo Porto, do Super Porto e suas plataformas espetaculares, passeios por água e a Praia do Cassino. 

A Minéia Turismo está apta para proporcionar um tour guiado excelente e abrir para os interessados o leque de opções que a cidade pode proporcionar. Contatos no fone 53.81281999 e informações no facebook.com/mineiaturismo






A viagem #RotaFarroupilha é um projeto do Territórios e do As peripécias de uma flor, em parceria com os blogs Café Viagem e Mochilinha Gaúcha, que contou com as participações especiais do Andarilhos do Mundo e da jornalista Criz Azevedo. O roteiro teve o apoio de empresas regionais, como o BC&M Advogados e Agropecuária Sallaberry, além do suporte do Sebrae Costa Doce e de algumas secretarias de turismo. A viagem usou como base o Caminho Farroupilha elaborado pelo Sebrae RS e oferecido, como pacote turístico, pela Tchê Fronteira Turismo, de Bagé/RS. 




10 comentários

  1. Parabéns pelo post, sempre te acompanho em tuas viagens para fazer as minhas, abraço!

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  2. Adorei os prédios e queria todos eles em melhores estados de conservação!
    Logicamente, lembrei das minhas aulas de história, kkk... Orgulho de ser gaúcha! bj

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  3. Uau, faz tanto tempo que estive em Rio Grande pela última vez (1997).
    Mas vejo que ela continua com sua beleza nostálgica. Lembranças...

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  4. Sério, esse post para mim foi uma aula de história! Não vejo a hora de ir passear por essas bandas

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  5. Que aula de história, hein?
    Adorei!!!!
    Ai, que saudade do sul rss

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  6. Uma linda aula de história!! Adorei. Ah e que prédios lindos né?

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  7. Tb sou louca por arquitetura desse tipo! E azulejos então??? Adorei o cais tb! Me pareceu o de Porto Alegre, de onde saímos para o passeio de barco!

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  8. Mas esta minha amiga é um banho de história! Uma pena que a chuva nos atrapalhou muito este dia, mas certo que voltaremos para ver o sol. Lindo relato! ;-)

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