Arco do Triunfo: traços da história do Império Napoleônico em esculturas.




Gostar de arquitetura e de história da arte sempre fez com que fosse muito atenta aos traços que se mostram, que estão pelas ruas, nos sentidos daquilo por trás do óbvio. Isso se reflete em análises de casas antigas, nos detalhes de igrejas e, com ainda mais força, em tudo o que envolve grandes monumentos. 

Quem acompanha o Mochilinha já deve ter percebido que os sentidos e aspirações do blog foram se alterando e se moldando ao longo dos anos, ficando mais com a minha cara, perdendo um tanto do caráter informativo e se transformando, efetivamente, num diário sobre os lugares por onde andei, do que vi e de como vi tudo o que se mostrou pelos caminhos. Isso tem permitido que muito do que estudei de história da arte pinte aqui e acolá, além de eu jogar, em algumas postagens, detalhes de obras das quais gostei. Assim surgiram "Arco da Rua Augusta: um mirante todinho nosso, ora pois" e "Uma Cartilha Positivista, em Porto Alegre: um pouco de história" , sucessos absolutos no Mochilinha. 

Paris não se furtou e me brindou com um apaixonante monumento, a primeira atração turística na qual coloquei os olhos quando cheguei: Arco do Triunfo. 




O senhor dos Campos Elísios (Paraíso, para os gregos) reina absoluto numa das extremidades da Avenida Champs-Élysées, na praça de onde partem doze importantes avenidas da cidade e que formam a grande Étoile (estrela). Quando, por quais razões e pelas mãos de quem surge o lindo Arco francês? Pois é, o jovem senhor é cheio de histórias e são essas que tentarei resumir por aqui. 



Nos anos de 1800 Napoleão conduzia seus exércitos, as vitórias e as derrotas se acumulavam, assim como as baixas humanas. Como, além de se glorificar, poderia ele estimular famílias a mandarem seus filhos para as guerras? Como conclamar os soldados a pularem de trincheira em trincheira, além de marcharem de peito aberto pelos campos de batalha? Discursos nacionalistas e promessas dos louros da glória, das vitórias. Inspirado pelas grandes conquistas do Império Romano, com a vitória na batalha de Austerlitz (1805) prometeu que construiria um grande Arco, por sob o qual os triunfantes soldados passariam ao retornar para casa. Assim o fez, tendo as obras inicio em 1806, a partir do projeto de Chalgrin, mas que com a derrocada do Império Napoleônico acabaram por ser concluídas apenas em 1836, já no reinado de Luis Felipe.  

Inspirado no Arco de Tito (Roma - 89) foi construído com um único arco e em maior escala. O pequeno romano (15mx13m) foi erigido em comemoração à conquista de Jerusalém por Tito Flávio, em 67. Integralmente em mármore, é lindo e pode ser visto numa visita ao Fórum Romano. Ó ele ai! 



O francês, em estilo neoclássico, primou pela sobriedade, sendo que as colunas romanas foram substituídas por pilares lisos, mais austeros. O que se sobressai, além das medidas (50mx45m), são as esculturas e quadros em relevo que ornam as pilastras e o entablamento e, pelas quais, caí de amores. Já prestaste atenção na beleza do conjunto escultório? 




Possui quatro pilares, com um grande grupo escultório em cada e, sobre eles, um quadro em relevo. Uma cornija em toda a volta, decorada com coroas. No friso imagens que simbolizam as partidas e chegadas do Exército. No interior e pelas paredes estão gravados os nomes de quase seiscentos generais que se destacaram até 1895, além das denominações de mais de cento e vinte batalhas. 



Tida como a escultura mais importante, "A Partida dos Voluntários de 1792" ou "A Marselhesa", foi esculpida por François Rude, em 1833. Simboliza a França, enquanto pátria-mãe, chamando os voluntários para lutar pelo país e sobre esses estendendo suas asas protetoras. A mulher com asas simboliza o Espirito de Liberdade e incita o povo para a luta. Não considero a mais bela, mas certamente a mais emblemática. Sobre "A Marselhesa" temos a "Batalha de Aboukir", Egito - 1798.


"A Resistência de 1814" é de Antoine Etex. Simboliza a resistência da França, num primeiro momento, diante das forças estrangeiras invasoras (russos, prussianos e austríacos) e a derrota de Napoleão na batalha de Leipzig. O francês nú, com um punho cerrado em sinal de sua determinação e a outra mão armada com a espada de dois gumes, saindo em defesa da pátria. O pai, já idoso, abraçado em sua perna, na tentativa de impedi-lo. Ao lado, o segurando pela mão, sua esposa com filho nos braços. Atrás o soldado tombando, simboliza o sacrifício em nome da pátria. Sobre todos, a imagem que simboliza o Espirito do Futuro, da qual uma chama sai da cabeça, iluminando os caminhos, enquanto segura uma espada quebrada. Sobre esse conjunto, o quadro em relevo "A Ponte". 



Em outro conjunto "O Triunfo de Napoleão em 1810", do escultor Jean Pierre. Ano do apogeu do Império, com o casamento de Napoleão e Marie-Loise da Áustria. Napoleão é retratado em vestes romanas, com sua espada em mãos e sendo coroado pela Deusa Vitória. O homem ajoelhado representa aqueles que foram por ele derrotados e a mulher com a coroa sobre a cabeça simboliza o Império da Áustria, então protegido por Napoleão. Um pouco acima a Deusa da História, aquela que registra as vitórias e conquistas napoleônicas. Sobre todos, a Deusa alada da Fama, com folhas de palmeiras simbolizando a Expedição vitoriosa ao Egito. O quadro em relevo, sobre o conjunto, representa cena dos funerais do General Marceau. 



O último grande conjunto, também de Antoine Etex, é "A Paz de 1815", uma homenagem ao Tratado de Paris que pôs fim a tentativa de Napoleão voltar ao poder - Governo dos Cem Dias e restaurou a Monarquia Bourbon. A esperança de tempos serenos é retratada através da figura de uma mãe com seu filho nos braços e de um homem arando a terra. Além deles, um leitor evocando a importância da educação e um soldado com a espada na bainha, em gesto de paz. Acima de todos a Deusa Minerva, simbolizando a sabedoria, as artes e o trabalho. Sobre A Paz um quadro em relevo retratando a Tomada de Alexandria, uma antítese. 


No solo o túmulo do Soldado Desconhecido, com os despojos de um combatente da I Grande Guerra. Inaugura em 1921, na data em que se comemora o Dia do Armistício, desde 1923 conta com a Chama da Memória - todos os dias, às 18h30min, um representante da associação de ex-combatentes verifica e a reacende, caso tenha se apagado. Além do túmulo há diversas placas, simbolizando a Proclamação da República (1870), o retorno do território da Alsácia e Lorena (1919), três delas em memória dos mortos e das vitórias na II Guerra Mundial, bem como em memória de outras guerras travadas no século XX - Indochina e Argélia. 

Perceberam que no seu entorno há uma centena de pilares de granito? Parecem meras ofendículas, mas na verdade simbolizam os 100 dias do Reino de Napoleão. 

O Arco é hoje o ponto de partida das paradas militares e ponto de encontro para comemorações e manifestações. A chegada das cinzas de Napoleão deu origem a tradição de importantes cortejos fúnebres passarem por ele, como aconteceu com o de Vitor Hugo. Foi palco da demonstração da vitória alemã em 1940, quando os exércitos nazistas invadiram Paris, assim como e, especialmente, da festa da libertação em 1944. 


Nada passa desapercebido quando o assunto é o Arc de Triomphe, nem mesmo o Sol. Nos dias 10/05 e 01/08 de cada ano, quando ele se põe no final da avenida Champs-Élysées, seu círculo brilha exatamente no meio do arco e é um deleite para os fotógrafos, claro! 

* promessa: na próxima estada providenciarei imagens melhores dos detalhes e substituirei algumas dessas. 







Um comentário

  1. Paula,
    Custa caro visitar por inteiro e subir no topo, mas realmente vale a pena! :)
    Bonita publicação!
    Abraço!

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