Uma nesguinha portuguesa em terras espanholas: Colonia del Sacramento, no Uruguai.


E na manhã de um 27 de setembro de céu absolutamente azul, partimos de Montevideo para aquele que seria um dia mais que especial, inesquecível... 


Os anos de 1700/1800 foram muito movimentados na fronteira sul do Brasil, com áreas disputadas entre Portugueses e Espanhóis, constantes tomadas e retomadas, dando uma conformação diferenciada a região, como o estabelecimento da Colonia del Sacramento, hoje território uruguaio.

A Coroa Portuguesa sofria com a crise do açúcar e começou a espichar olhos para o sul da colônia americana, buscando alargar domínios e fazer uso do Rio da Prata para transporte de mercadorias, tráfico de escravos e para estreitar laços com os portenhos. E assim nasceu a Colônia do Santíssimo Sacramento, uma fortificação portuguesa na margem oposta do Rio da Prata onde já se encontrava Buenos Aires. É preciso dizer que muito antes das disputas futebolísticas os colonizados portugueses já travavam batalhas com os hermanos?? Pois é, de batalha em batalha, de Tratado em Tratado, a pequena fortificação foi trocando de mãos ao longos das décadas, sendo destruída e reconstruída, até o tratado final que redivide os territórios ocupados e dá origem aos mapas com os marcos que hoje conhecemos. E a pequena Colonia? Pois é, de origem portuguesa acaba finalmente sob domínio espanhol, sendo reconhecida em 1995 como Patrimônio da Humanidade. Hoje um centro turístico que recebe ávidos viajantes, em busca das histórias marcadas nas pedras irregulares dos caminhos, pelas pequenas casas de fachadas simples e pelos vestígios ainda existentes do Convento e das Muralhas da Fortificação.


E ao visitar o centro histórico da hoje Colonia del Sacramento, a 180km de Montevideo ou a uma hora de barco de Buenos Aires, encontramos o único aldeamento com características lusas em território uruguaio. E em busca dessas histórias e de belas imagens chegamos na última sexta a cidade, em especial ao seu centro histórico. Alugamos um carro ao chegarmos no Aeroporto de Carrasco e no dia seguinte, bem cedinho, pegamos a estrada seguindo o google maps  - uma estrada duplicada e bem conservada, viagem rápida e agradável.




Ao chegar às margens do Rio da Prata já vislumbramos o Casario e dali partimos a pé, observando detalhes, curtindo os muitos carros antigos espalhados pelas ruas, sentindo o perfume dos Jasmins florescidos, até chegarmos ao antigo Farol. 






Acredito que chegamos um pouco cedo, pois éramos as únicas por lá, em meio ao comércio ainda com portas cerradas. O silêncio quebrado apenas pelo canto de pássaros na praça e pelos grunidos das muitas e muitas pombas que moram nas reentrâncias das paredes do antigo Convento.








Após uma parada na Freddo, única portinha aberta aquelas horas, vimos a área histórica ser inundada por estudantes e turistas que eram descarregados as dezenas de ônibus turísticos estacionados às margens do Rio. O canto dos pássaros parcialmente substituído pela algazarra das multidões. Nas margens do Rio encontramos as ruínas do Convento de São Francisco Xavier, destruído por um incêndio e onde foi construído o Farol, ainda em atividade.







Continuamos nossas explorações, curtimos os detalhes das muralhas da fortificação - tão semelhantes ao Forte Dom Pedro da Segunda Capital Farroupilha, Caçapava do Sul. A familiaridade nos deu instantânea cumplicidade, mas a multidão impedia momentos de maior intimidade daquela construção com minha lente. Assim, após alguns clicks parti, retornando quando o perfume do almoço invadia a praça e chamava à todos para os muitos restaurantes da área. Aí, então, tivemos nosso momento, alguns clicks quase a sós. 






Mas nem só de muralhas é feita e contada a história daquele lugar. Há o traçado irregular das vias, calçadas por pedras de formas e tamanhos diversos, bem portuguesas e tão diferentes dos traçados de "tabuleiro de xadrez" espanhol. Como costumamos dizer, para os portugueses as trilhas irregulares traçadas por carretas eram transformadas em estradas e ruas, sem qualquer organização, dando origem a cidades com traçados estreitos e cheios de curvas, obedecendo a topografia dos lugares, pouco adaptáveis aos nossos dias.




O Casario formado por edificações com fachadas junto as calçadas, unidas umas às outras, porta e janela, porta e janela - casas de pedras e telhados de várias águas. Facilmente se distinguem das edificações do período espanhol, de paredes de tijolos e telhados planos. 








A muralha, o fosso e o antigo portão das armas acabaram parcialmente demolidos. O trabalho de escavações e restauro na década de 70 recuperou parte da história fazendo uso das pedras originais, que haviam sido utilizadas para tapar o fosso. 



A Igreja Matriz é simples, mas simpática e em seu entorno há restaurantes, lojinhas de artesanato e lembranças da terra, além de curiosidades. Dá uma olhadinha no relógio da Igreja, lá na torre, ele informava as horas para todo o entorno. 




O que você acharia de se deparar com um carro floreira?? Eu pirei no bichinho!! 


Pernas cansadas, sol do início da tarde, o que fazer? Ganhamos as ruas em busca de almoço e encontramos junto a avenida por onde havíamos chegado o Punta Piedra, simpático, com um atendimento mega atencioso e uma comidinha deliciosa. O que mais? Escolher dentre as opções da linha Pepsi a nossa garrafa de vidro de 1 litro. Ainda lembram o sabor dos refrigerantes em garrafas de vidro? Recordamos tomando Mirinda, acreditem!!! Há, por óbvio, muitas opções em vinhos e cervejas, muitas Patricias sobre as mesas, não recomendáveis à motoristas como nós. 




Há uma boa oferta de bolsas e outros utilitários em couro, lembrancinhas, chapéus, palas e outros, nas muitas lojas espalhadas no entorno histórico. Adquiridos alguns mimos, hora de cair na estrada, deixando para traz belas avenidas integralmente cobertas por centenários Plátanos. 



A sensação? De ter valido cada um daqueles quase quatrocentos quilômetros percorridos para curtir um pouco de história e nostalgia. Ao final do dia estávamos de volta, prontas para dar início a exploração de Montevideo


Informação sempre importante: se você chegar sem acesso 3G (o meu funcionou maravilhosamente bem), basta solicitar a senha de bares e restaurantes ou, se estiver caminhando, se utilizar das muitas redes wi-fi residenciais com acesso desbloqueado.

5 comentários

  1. Ainda iremos visitar essa cidadezinha e ver de perto esses carros e seus modelitos e almoçar debaixo de um sombreiro e comprar um chapéu de palha. Está em nossos planos, viu Paula!.

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  2. Cada vez mais quero voltar pra Buenos Aires, mas na verdade é mais pra ir pra Colonia do que pra BsAs mesmo hehehe.

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    1. Voltarei a Colonia, pois quero fazer a travessia BsAs/Colonia!

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  3. Um dos lugares mais legais que já conheci!

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