O pequeno Museu está situado na rua Duque de Caxias, quase ao lado da Catedral Metropolitana e do Palácio Pirati, em Porto Alegre. Apesar da importância histórica do personagem que lhe dá nome e do ponto nobre onde se encontra instalado, possui apenas um pequeno acervo e exposições sem grande expressão, infelizmente. Mas possui história.
Criado sob a designação de Museu do Estado em 1903, passou a atual denominação em 1907. De conformação eclética, reunia documentos e peças históricas, coleções de botânica e mineralogia, obras de arte, entre outros. A partir de 1950, entretanto, seu acervo começa a ser repartido entre novas e especificas instituições, esvaziando-o. Hoje seu acervo abrange apenas peças e materiais de caráter histórico regional. Embora o acervo catalogado seja expressivo, o em exposição é singelo - para dizer o mínimo.
Mas qual a razão da minha visita, então? Amor de infância, de uma época que não apenas os pais levavam seus filhos aos museus e teatros, como era papel das escolas fazê-lo. E assim, ao longo da infância visitei e revisitei muitos museus em Porto Alegre, mas apenas em uma oportunidade estive no Julio de Castilhos. Dele guardei boas recordações e a imagem de móveis antigos, brilhantes e lindos. Há dois anos residindo nas proximidades, sempre o olhava com carinho, prometendo revisitá-lo. Com o anúncio da abertura provisória de seu prédio principal e que se encontrava fechado há 16 anos para reformas internas (e que é exatamente o prédio visitado na infância), resolvi atravessar a rua, finalmente.
Os prédios que servem de sede ao museu se encontram lado-a-lado e possuem comunicação interna. O mais antigo e que serviu de residência para Julio de Castilhos (Presidente da Província do Rio Grande em duas oportunidades) até seu falecimento é o revestido de pedra grés lavrada (1887). Ao lado, já num estilo mais eclético, temos a atual sede (1916), a que se encontra aberta a visitação de forma permanente.
Acontece cada coisa na vida da gente que o melhor é sempre achar um pouco de graça das situações. Numa tarde quente saio do meu condomínio, miro e me dirijo ao prédio de pedra, finalmente com as portas abertas. Na porta uma moça já acompanhava meu deslocamento, devidamente fardada com o uniforme da empresa de segurança - não mexe o pé ao me ver chegar, impedindo o acesso. Pergunto, gentil: está aberto? Resposta: Sim, com um sorriso, mas sem mover-se. Pensei, que atrapalhada e lá fui pedindo licença. Bom, daí para frente foi como visitar um lugar abandonado, salvo por alguns encontros com um segurança que olhava os gatos pingados que visitavam o local como se pudessem colocar o acervo no bolso e partir - simpatia zero! Mas como fui lá para revisitar, rememorar e me encantar, o abstraí.
Não houve encantamento, entretanto. As exposições são singelas, com poucas peças. No prédio principal havia uma exposição sobre a colonização Açoriana - "Laços Açorianos: povoamento e cultura no Porto dos Casais", com poucos objetos e vestimentas, contando um pouco da história daqueles que fundaram nossa Capital.
Nos demais espaços, salas dedicadas aos Indígenas e as Missões. Entre as duas, fico com a das Missões Jesuíticas, com poucas, mas belíssimas peças expostas. Já contamos nossa visita as Missões, está nesse post aqui.
Agora, no fundo, tinha ido revisitar a exposição dos objetos e móveis que pertenceram a família de Julio de Castilhos e que guardava na memória. Expostas num dos quartos da antiga residência, se resumiam aos móveis do dormitório do casal, a escrivaninha com a cadeira e a um relógio. Embora estejam conservados e sejam belos, somente foram lá colocados, sem qualquer preocupação estética - de um lado os móveis do dormitório e do outro os de trabalho. Bom, para quem gastou tanto em propaganda acerca da reabertura, um pouco de cuidado ia bem! Nem preciso dizer que a reabertura é provisória, pois o prédio ainda demanda (muitas) reformas.
Já estava lá, não? O negócio foi remar e seguir com a visita. Na comunicação entre os prédios há esses dois objetos expostos - Landau e Canhão Krupp, além do acesso ao pátio, onde há alguns outros objeto de artilharia.
Exposição de objetos do Período Escravista:
Pinturas:
Já na sala maior do prédio que se encontra permanentemente aberto, uma exposição de objetos variados e de curiosidades. Objetos do cotidiano no inicio do século passado:
O Museu Julio de Castilhos guarda, entretanto, um objeto que é do conhecimento de todos e que sempre causa curiosidade e muitos comentários, especialmente entre as crianças: as "Botas do Gigante - de Francisco Ângelo Guerreiro". Mas dá uma olhadinha e veja se não era, para a época, um gigante?
E aí, o Museu merece uma visitinha? Como se encontra junto a Praça da Matriz (Praça dos Três Poderes - Palácio da Justiça, Assembléia Legislativa e Palácio Piratini), pertinho do Solar dos Câmaras e quase ao lado da Catedral Metropolitana, além da entrada ser gratuita, se estiver passando por ali em direção ao Viaduto Otávio Rocha, vale dar uma espiadela, especialmente se nunca visitaste as Missões Jesuíticas.
Só uma pitadinha histórica? Aviso que é mórbida! O casarão foi adquirido pelo Partido Republicano Rio-Grandense e doado a Júlio de Castilhos, onde o mesmo passou a residir com sua esposa e seus filhos. Lá acabou falecendo em 1903 em decorrência de uma cirurgia dizem (porque não acredito que pudesse ser diferente) mal sucedida para remoção de um câncer na traqueia. Pois bem, falecido o patriarca, o que faz a amorosa esposa? Suicida-se no mesmo local e a casa é considerada amaldiçoada por muitos. Quem moraria num casarão mal-assombrado? Rapidamente os herdeiros a vendem ao Governo do Estado. E como toda maldição, ha muitos relatos de vultos, de barulhos.... Então, cuide-se!
Agora, uma última observação. Juro que o que lá vi não é o que está no site do museu - e minhas fotografias confirmam. Mas se desejar ver imagens bonitinhas das exposições, especialmente da sala de Julio de Castilhos, entre aqui.
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