CASA BATLLÓ, uma poesia: o meu olhar, entre tantos olhares!



Uma das obras de Gaudí em Barcelona é a Casa Batlló, linda e apaixonante, no Passeig de Gràcia. 


Uma obra de Arte em Barcelona. E por que uma edificação seria considerada uma obra de arte? Porque o artista interferiu em todas as nuances: design, na cor, na luz e no espaço. Integra o conjunto de obras do artista reconhecidas como Patrimônio Mundial pela UNESCO. 

Antes de falar da Casa em si, é preciso tecer uma ou duas observações sobre o artista. Para que seja possível entender um pouco do sentido de suas obras é preciso se situar no tempo e na interação do mesmo com sua época, ou não. Para mim, em regra, Gaudí é um daqueles homens que podemos dizer que "esteve a frente de seu tempo", é um precursor e por isso sua Arte sobrevive, está viva e se mostra ainda hoje contemporânea. O conjunto de seu trabalho conversou com várias escolas, num primeiro momento Vitoriano, após Mudéjar (mescla de elementos muçulmanos com cristãos), Gótico e Barroco. A Casa Calvet (1898/1904), em estilo predominantemente barroco e a Casa Batlló (1904/1906) são o marco de uma transformação, da transição, de uma libertação do artista - a escola barroca como a última seguida por Gaudí na Calvet, que a partir da Batlló foge do convencional e cria um estilo próprio, cheio de simbolismos e metáforas.  

Havia lido a respeito muitas vezes, visto belas imagens, mas tem lugares que só interagindo para ter idéia de sua dimensão, porque as formas e os significados variam de acordo com cada olhar. 

Todos falam das curvas, para mim o impacto foram as cores e jogos de luzes. Mas o misto de cores e formas, com o arrojado das soluções arquitetônicas, a tornam única e quase inexplicável. É preciso vivê-la, pois é lúdica!  

A casa é na verdade um edifício, construído no período de 1875/1877. No inicio dos anos de 1900 Antonio Gaudí foi contratado pelo proprietário José Batlló Casanovas para sua remodelação, que o transformou no que conhecemos hoje, um conjunto de soluções e invencionices de pura e absoluta beleza - há muito de experimentação estética, estrutural e funcional. 


As formas dadas a fachada principal a fizeram conhecida como "A Casa dos Ossos", uma vez que os balcões possuem a forma aproximada de crânios, além de uma grande tribuna com pilastras que lembram ossos humanos. Ainda na fachada temos o revestimento, formado por mosaicos coloridos que fazem com que se sobressaia em meio a construções mais sisudas. 


Há muitos elementos orgânicos na construção (especialmente da flora e fauna marinha) e religiosos, sendo que alguns dão margem a interpretações diversas. A mais conhecida é a lenda de São Jorge e o Dragão: a cobertura em escamas representaria o Dragão, enquanto a torre com cruz de quatro pontas, São Jorge - o padroeiro da Catalunha. Complementando, teríamos os crânios (ou máscaras) e os ossos simbolizando as vitimas do Dragão, antes de sucumbir frente a espada de São Jorge.  

  


O interior é formado por muitos elementos, diferentes, que se cruzam e se entrelaçam. Formas curvas e retorcidas que se por um lado são soluções arquitetônicas, por outro são Arte, pura plástica. Uma interligação sem fim de estilos. No salão principal as esquadrias lembram ondas, o teto lembra a areia da praia esculpida pelo movimento das águas e o lustre central uma grande água-viva. 




Os arcos parabólicos (ou catenários) que dão sustentação ao telhado estão em forma de costelas, com aberturas de ar e luz natural indireta, em estilo Mediterrâneo. 



Para uma melhor distribuição da luminosidade, o pátio interno foi recoberto por "trencadís" de cerâmica e vidro (herança Bizantina) desenhados por Gaudí e aplicados em degradê, de cima para baixo, partindo de um tom de azul mais intenso junto a entrada da luz, até atingir matizes mais claras e, em alguns pontos o branco, junto a parte inferior. 




Interagindo com a distribuição de cores temos o desenho e a métrica das aberturas. Janelas menores em cima - em conjunto com as cores fortes, janelas maiores em baixo - em conjunto com tons cada vez mais suaves, numa tentativa de igualar a distribuição da luminosidade em todos os andares. 


Complementando o conjunto do pátio interno temos os vidros, translúcidos mas não transparentes, que deixam passar a luz natural que em contato com o azul da cerâmica são a impressão de ondas do mar. Os elementos se mesclam, interagem e criam novos sentidos a cada olhar.


O telhado foi transformado num grande terraço, colorido e com chaminés que também receberam tratamento estético, movimento e cor. 




Mas não precisa ser um mestre ou um apaixonado por arquitetura para curtir a visita, basta olhar atento e espirito livre. Como tudo que é lúdico, coração aberto para receber aquelas mensagens, mente livre para dar sentidos aqueles elementos. Para uma leiga apaixonada como eu, uma oportunidade de descobrir em meio a tantos elementos, um pouco de história, da interligação de estilos. Para um desavisado, distraído, a oportunidade de perceber animais, cores, elementos e luzes naqueles detalhes tão minuciosos. A casa está ali para ser absorvida, para ganhar sentidos. 




 


6 comentários

  1. Que massa, Paula. Eu não conheci a Casa Batlló por dentro. Visitei a Casa Milá (La Pedrera), que também é maravilhosa. Na próxima visita a Barcelona, vou ver mais esse espetáculo de Gaudi.

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    1. Se puderes colocar no roteiro não terás arrependimentos, especialmente se escolher uma hora luminosa do dia. Meu único arrependimento foi ter escolhido um final de tarde, com a luminosidade baixando, as fotos não ficaram legais. Para captar certas minucias é necessária uma luz mais intensa. Abraços!

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  2. Oi, Paula! Você é arquiteta, design ou algo do gênero? É que adorei seus comentários e análise da obra. O bacana de viajar é expandir nossos conhecimentos e ter um blog nos permite aprofundar-nos ainda mais :)
    Bem, é por isso que comecei o meu, mas ainda é "simplinho".
    Estive em Madri, mas não deu para passar em Barcelona, mas logo logo quero ir. Agora mudei minha opinião sobre viagens - quero conhecer menos lugares, mas nos poucos que eu for quero conhecer bem.
    Comecei a mensagem perguntando se você era arquiteta porque eu sou :) e o Gaudí é excentricidade pura! Suas obras me lembram crianças brincando com massa de modelar. Tenho um livro bem bacana de tudo o que ele já fez.
    Bom, é isso. Se puder passe lá no meu blog para trocarmos idéias. Bjs

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    1. Gostaria de ser, mas aos 45 do segundo tempo fiz Direito, paixões que se somaram. Por outro lado sou filha de uma professora de História da Arte e fiz Curso Técnico de Decoração de Interiores (quatro longos anos em meio a plantas, projetos e muitas, muitas aulas de História da Arte). Assim, história e arquitetura fazem parte da minha Vida, desde sempre e para sempre! Aproveito as viagens para colocar testar um pouco dos meus parcos conhecimentos, é divertido!!! Comprei um livro sobre o Parc Guell, outro lugar mega bacana, coisa de loucos - dele e de quem o contratou!! Vou passar para te visitar e conhecer seu cantinho, certo. Abraços!!

      Paula

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  3. "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo"...
    O resto fica por conta de Gaudí e das tuas reflexões, Paula.

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    1. Carmem, sempre tão gentil... Obrigada pelo lindo comentário! Abraços!

      Paula

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