Cuba e seus Carros: uma história ilustrada.



Tantas questões politicas, filosóficas, humanitárias... 

Posso contar? O que primeiro jogou Cuba na minha vida foram os carros, antigos, fumacentos e muito coloridos. 



Quando criança assistia programas na tv, acompanhava discussões sobre os "comunistas", guerrilheiros, "comedores de criancinhas" e só fazia prestar atenção naqueles carros de bancos largos, em tantas cores. 



Sou apaixonada por antiguidades, por história e, através das cores daqueles possantes, permiti que Cuba entrasse na minha vida. 



Com a redemocratização brasileira descobri que Cuba não era Comunista e sim Socialista, o que tinha sido a Crise dos Misseis, o que é o Embargo Econômico e as razões pelas quais Cuba e URSS andavam de mãos dadas. Eram os anos 80 do Misha, do boicote americano aos jogos olímpicos em Moscou, do boicote soviético aos jogos olímpicos em Los Angeles, do Gorbachev e de suas Glasnost e Perestroika. Entendeu nada? Dá uma "googlada". 





Nessa época vi aportarem por lá os carros da marca Lada e, para meu gosto, havia uns jeeps muito lindos. Eram os soviéticos que tomavam as ruas cubanas, se mesclavam com os banheirões e ganhavam a mídia em reportagens que falavam da crise cubana frente a diminuição do apoio financeiro por parte de URSS. Aff, tempos da Guerra Fria. Ruía a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a economia de Cuba. 



O tempo passou. Dos carros para os livros, dos livros para Havana. Eu e Cuba, três décadas de namoro. 





Durante trinta anos ouvi, li e tentei entender Cuba. Concordamos, discordamos e os carros continuaram a rodar pelas ruas e estradas e, de certa forma, envelhecemos juntos. 





Passei dos quarenta e Cuba continuava lá, meio que congelada no tempo, com sua arquitetura secular e seus carros sessentões. Ruas tão diferentes das nossas, tomadas por veículos modernos e suas cores repetitivas: brancos, pretos e prata. Por lá, as mesmas cores fortes de outrora, contrastando com os tons de esmeralda do mar do Caribe. 






Olhar pela janela, numa manhã ensolarada, e se deparar com Cadillac, Dodge, Buick, Bel-Air e tantos "Rabos de Peixe". 




Por décadas, os únicos carros novos que chegaram em Cuba foram os soviéticos e poloneses. Pouco antes de deixar seu posto, Fidel autorizou a compra veículos usados e, hoje, Castro permite a compra de veículos novos, não americanos. Há muitos veículos novos trafegando pelas ruas, há ônibus gaúchos, carros coreanos, japoneses e etc. Normalmente seus proprietários são estrangeiros, embaixadas ou empresas mistas. Há frotas de táxis novos, onde a Hyundai (o único moderninho no qual andamos, estragou) é a marquinha do momento. 



Paramos na estrada para dar uma ajuda... 



Como deixar de falar do Polska, os pequenos poloneses? Tão pequenos e com coração tão gigante: vimos sair sete pessoas de um, acreditem! 




O charme? Esse está pelas ruas, na frota de veículos de carcaça americana e interior russo. Os anos sob embargo econômico americano fizeram com que os veículos mantivessem sua roupagem original, mas tivessem as peças substituídas pelas que chegavam, normalmente vindas da União Soviética. Hoje? Há loja de peças da Lada (Rússia) em Miami (EUA), onde cubanos expatriados compram e enviam para Havana (Cuba) - o bom e velho jeitinho brasileiro, ao que parece. 





Eu, antiga proprietária de um lindo e especial Lada Niva, não me furtei de matar a saudade do meu ICB8180, o Gaspar (Gasparzinho, o fantasminha camarada)! O deles e o meu, dois tempos, tantas histórias. 




Há uma frota especial, bem conservada e que carrega turistas, normalmente europeus, de um lado para outro. São lindos, coloridos e estilosos, um tanto americanos (demais) para meu gosto. Ficam no entorno do Hotel Nacional e da Plaza de La Revoluciòn. 







Utilizamos e curtimos muito os antigões, velhos trabalhadores na luta, que ainda hoje carregam habaneros e turistas, que sentam lado-a-lado em seus bancos largos e rasgam as largas avenidas de Havana.  



Um cotidiano com cenas que parecem saídas de um filme de época. 





Estão por todos os lados, esfumaçando as ruas com seus motores a diesel, velhos e desregulados, mas com tanta história, bancos confortáveis e motoristas solícitos. Adoramos. 






Que a abertura não tire das ruas os carrões e suas histórias, feitas de cores e pedaços. A fuligem veio na pele e na bagagem, junto com a Cuba que trouxemos no coração. 






6 comentários

  1. Confesso que tinha algum tempo que não lia um texto seu. Aliás, texto nenhum. rsssss
    Esse foi pra matar a saudade em grande estilo. Adorei. Parabéns por mais um post tão vivo!

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  2. Muito original! Apaixonei-me por um :D
    Beijinhos, Paula!

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    1. É tão diferente do que estar num museu ou num evento com carros antigos. É história viva, do cotidiano, está pelas ruas. Um encanto. BjO!!

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  3. Engraçado, os carros de Cuba também estão muito no meu imaginário quando penso no país turisticamente falando. Estão lindas as fotos. Adoro o texto!

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    1. Obrigada, Silvia. Os carros deram um tom lúdico para a viagem, foi muito gostoso andar fotografando pelas ruas, especialmente momentos onde em situações cotidianas eles eram os únicos na paisagem. BjO!

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