Assis: um lugar onde a história está nas ruas.



Visitar cidades fortificadas é uma atividade deliciosa, especialmente quando se é apaixonada por história. É como tirar dos livros e jogar nas ruas, no calçamento e nas paredes, pois a passagem do tempo está por ali, espalhada, em detalhes e minúcias. Curto garimpar a história, olhando para o alto das paredes, andando... 





Em Assis esses detalhes estão pelas ruas, nas pedras das muralhas e das casas, nos telhados de terracota e nas pinturas, algumas gastas pelo tempo e ainda mais lindas. Além da Basílica de São Francisco, temos a Piazza del Comune e o complexo Museu e Foro Romano, cheio de peças interessantes. Tínhamos poucas horas na cidade, então decidimos fazer uma super caminhada, subindo e descendo ladeiras, entrando e saindo de locais culturais e mundanos. Do Museu até a Pizzaria, com o mesmo entusiasmo. 


Não é uma cidade grande, possui poucas atrações, convida para uma caminhada, com uma parada aqui e outra acolá, além de ser muito, muito fotogênica. Não dá vontade de ir embora. 





Na província de Perúgia é conhecida por ter sido a cidade natal de São Francisco de Assis, que lá fundou a Ordem dos Franciscanos e de Santa Clara, a fundadora da Ordem das Clarissas. Nem só desse complexo religioso vive a cidade, ela possui outros atrativos históricos de encher os olhos. Logo na chegada fizemos uma parada para fotos na Fortaleza, na Rocca Maggione - construída, desconstruída parcialmente e reconstruída ao longo dos séculos, se mantém imponente numa das extremidades da cidade murada. Linda, pode ser visitada, mas nós apenas curtimos o entorno, pois havia um imenso contingente de visitantes naquele dia. 




Deixando a Basílica de São Francisco de fora desse post (já falei dela aqui), duas atrações ganharam meu coração. Uma delas foi o Templo de Minerva, na Piazza del Comune. Dita praça é um Largo, de onde partem diversas ruas e que substituiu o antigo centro administrativo, o Foro Romano. Por esse contexto histórico, ali estão importantes prédios públicos, como o Palazzo del Capitano del Popolo, a Torre del Popolo e a Fonte del Piazza, além do lindo Templo. 



Quanto a Piazza del Comune, farei algumas observações que ligam a vida do santo de devoção do local e Franco Zeffirelli. São Francisco ao abandonar as riquezas e passar a viver em prol da natureza e dos pobres, deixou também Clara, sua noiva. Passado algum tempo ela também passa a segui-lo e a professar sua fé, igualmente abandonando a vida rica proporcionada por sua família, para fundar a Ordem das Clarissas. Uma história de amor e fé, reproduzida na ficção pelas mãos de Zeffirelli, usando a Piazza e as ruas de Assis como cenários. Já assististe "Irmão Sol, Irmã Lua"? 



Não há uma explicação histórica para o Templo de Minerva ter se mantido com a fachada tão conservada, eis que após a derrocada do Império Romano teve uma fase onde era comum dilapidar antigas e suntuosas construções, retirando materiais para a construção de outros prédios. O Templo permaneceu a salvo, embora espremido entre duas construções, manteve suas características originais e foi convertido em uma Igreja Católica. A Igreja? Uma das mais lindas que já visitei - azul como o céu, claro! E seu interior? Barroco. 



O parágrafo acima explica, para mim, um conjunção de fatores que fazem com que o conjunto Piazza del Comune, Templo de Minerva e Igreja de Santa Maria Minerva seja único. Uma Piazza Medieval, com um edifício Romano, convertido numa Igreja de interior Barroco. Uma interação perfeita de elementos ao longo dos séculos, sendo moldados e reconstituídos ao longo da história. 



O Templo, com suas imponentes e lindíssimas colunas coríntias, guarda as marcas do tempo, mas está conservado. dedicado à Deusa Minerva da era pagã, representante da Sabedoria e da Paz. Proibidos os cultos pagãos, o espaço ficou abandonado por mais de um século. Num determinado momento os monges Beneditinos readequaram o espaço para abrir uma Igreja, devotada a San Donato. Os anos passam, o espaço se transforma em prisão, posteriormente é devolvido Cúria Católica e, por ordem do Papa Paulo III é restaurado e, agora sim, devotado a rainha católica da Sabedoria, Santa Maria. A partir dos anos de 1600 sofre com processos de transformações e restauros, ganhando as características Barrocas que hoje observamos. 



Entrei e não tive vontade de sair, fiquei olhando os afrescos, observando traços tão bem delineados e os tons de azul bem distribuídos, suaves. Adoro azul! 






O outro ponto que ganhou meu coração, como disse lá no inicio, foi o Museu. Ele estava vazio, embora uma multidão andasse pelas ruas. É um museu arquitetônico, onde parte do que há para ver está nas paredes e colunas. Além disso, conta com muitas peças oriundas de escavações, que contam muito da história, especialmente do Período Romano. Um deleite para os olhos, já que as peças estão conservadas e são cheias de detalhes. 





Para que a visita não interfira nas características do local, uma passarela em vidro, que possibilita observar parte dos elementos sem lhes causar prejuízos. O local é climatizado e muito bem organizado, com as descrições das peças. Como estava vazio, fizemos o trajeto duas vezes, para observar com mais cuidado as peças que mais haviam nos chamado atenção. Na minha opinião, um lugar que deve entrar no roteiro daqueles que curtem arqueologia. 






Pelas ruas muitas lojas pequenas, em sua grande maioria vendendo artigos religiosos vinculados a São Francisco. Mas há também cerâmicas, rendas e algumas miudezas interessantes por detrás daquelas portas. 







Nossos olhos afiados, entretanto, encontraram uma linda papelaria/tipografia. Bom, se não havia comprado carimbos e papéis suficientes, enchi a malinha. Mais que adquirir, o gostoso foi percorrer o espaço, cheio de delicadezas e histórias, além de um atendimento espetacular. Recomendo uma visitinha, aproveite para papear um pouco com o dono, além de garimpar nas prateleiras. 



As oito portas de entrada da cidade são outra atração. Construídas ao longo dos séculos, para proteção, acabaram se convertendo em janelas para a área externa, para o verde dos campos e para as cores do entardecer. Usarei aqui uma fotografia já utilizada em outra postagem, mas que considero encantadora. 



Como já escrevi em algum lugar, Assis é uma cidade para ser percorrida numa (nem tão) suave caminhada. Sobe, vira, sobe mais um pouquinho... Foi uma das cidades de onde parti feliz, com aquele adeus tranquilo, pois a visita foi redondinha. 









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