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Salvador não era nosso destino, nosso destino era a Bahia. Mas a Capital serviu de sede para nossas andanças de norte a sul, foi por ali que chegamos, para onde retornamos para descansar o esqueleto por alguns dias e de onde partimos. Então, quando pensamos em Hotel, só queríamos praticidade e bom preço. E nada pode ser mais prático e garantido que os básicos da Accor: Mercure e Ibis, lado-a-lado, junto ao mar do Rio Vermelho. 




Nosso roteiro incluía um pernoite na chegada e quatro pernoites intermediários no Mercure e, um último, já no dia da partida, no Ibis. Mas resolvemos alterar algumas datas e o Mercure perdeu um dos pernoites e aí temos mais histórias para contar. 

Quando a intenção da hospedagem é apenas um bom banho e uma noite de sono agradável, sou uma entusiasta da rede Accor. Embora as tarifas de balcão nem sempre sejam espetaculares, há promoções de tarifa web, imbatíveis. Para nossa estada em Salvador escolhi o bairro e a hospedagem após uma leitura das indicações do Ricardo Freire, do VnV. Não teve erro, a localização é maravilhosa, a vista é linda e os hotéis são ótimos. 



O Mercure Rio Vermelho se encontra no final da rua, junto ao mar, entre o Ibis Salvador e o Pestana, rodeado de possibilidades gastronômicas. E é um charme. Simples, aconchegante e com um atendimento acima da média, simpático, prestativo, eficiente e maravilhoso - só isso. As instalações estão mega bem cuidadas, a decoração suave e aconchegante, na área externa uma piscina com borda infinita, junto ao mar do Rio Vermelho. Instalações privativas espaçosas, com equipamentos para café/chá - que foram muito utilizados por nós, além de um banho maravilhoso (sempre repito: sou muito atenta a parte do banho). Embora estivéssemos em férias, a mesa de trabalho foi bem aproveitada, confortável, com ótima iluminação e muitas, muitas tomadas. 




A forte religiosidade, aliada ao sincretismo religioso, estão arraigados na cultura baiana. Com suas férteis terras servindo de berço para a colonização do país, numa época marcada pelo poder da Igreja Católica, aliado as crenças dos africanos escravizados, resta hoje a herança de inúmeros templos, preservados e espalhados pelas cidades baianas. 

Nossos caminhos não se furtaram das Igrejas caiadas, simpáticas, ou das ricamente esculpidas e ornadas. De Mangue Seco a Trancoso, de norte a sul, fomos parando, agradecendo pela oportunidade de rodar com alegria e segurança, por lugares tão lindos. Muitas, entretanto, não nos receberam com as portas abertas, mas estão em inúmeros registros fotográficos.

Das Igrejas as Capelas, da riqueza a simplicidade. Com uma história que se confunde com a história do Brasil, desde o descobrimento, a Bahia preserva um patrimônio espetacular em arte sacra, em painéis, pinturas, esculturas em madeira e barro, além da azulejaria. Vimos de tudo "Pelos Caminhos de Jorge".

Nossos primeiros dias junto aos baianos foram nas terras de Tieta, em Mangue Seco - uma pequena vila, entre o Mar e o Rio Real, na divisa com Sergipe. Lugar de beleza impar, possui no centro do vilarejo de ruas de areia uma simpática capela azul e branca, voltada para o Mar. A Capela se encontra fechada, parece que os santos foram retirados pelo pároco responsável, pelo receio que o mar avançasse e as destruíssem. Mas os santos padroeiros do vilarejo são Nossa Senhora da Boa Viagem e Jesus da Boa Viagem e estão na fé daquele povo. Simples como o povoado, mas imponente, no centro da praça central.



Em nosso retorno a Salvador, após estadia em Mangue Seco, visitamos a Igreja Basílica Senhor Bom Jesus do Bonfim, cercada por milhares de fitinhas coloridas, um centro de peregrinação diário. Vasculhamos um pouco de suas instalações, cumprimos o ritual de agradecimentos, saímos de lá com os corações leves e felizes.



A Bahia foi eleita nosso destino de verão, mas um destino temático, cheio de simbolismos. Foi mais do que rodar "Pelos Caminhos de Jorge", foi também curtir um pouco de sua religiosidade, do sol, de suas praias. Foi um misto, um roteiro apenas com os destinos traçados, sem limites, para ser vivido de acordo com o clima, com o momento. 



O clima de curtição se instalou quando chegamos a Trancoso, momento a partir do qual rasgamos o roteiro e só sabíamos o dia e hora do voo de retorno ao Sul. Era o momento de conversar com as ondas, ficar ao sol, curtir um banho de mar, sem relógio. Saímos das páginas de Jorge e caímos na Vida, fomos em busca de prazeres mundanos, de preguiça. 


O Quadrado nos proporcionou vida de interior, de sentar e ver o Mundo passar. De se perder das horas conversando, de andar, de comer uma pipoca, uma tapioca, tomar muitos sorvetes. E como é bom andar sem pressa e sem rumo... 




E a Arte daquela Terra? Chega pelas mãos dos índios, ou dos muitos artistas que ali se estabeleceram, com suas telas, esculturas, muita arte em madeira e alguma coisa em cerâmica e vidro. 




Pensam que rodar "Pelos Caminhos de Jorge" foi fácil? Foi maravilhoso, mas fácil não. Dentro desse "maravilhoso" cabem lindas imagens, praias, muitas igrejinhas brancas e muitos, mas muitos sabores. E de sabores e olhares é feito o Natureza Viva, um paradouro ecológico em nossa rota rumo Sul da Bahia.


Rodávamos sem hora, só com o destino em mente, quando a fome bateu junto com aquela vontade de esticar as pernas, respirar, tomar um refresco gelado. Passamos por vários postos de combustíveis com pequenas lanchonetes, mas faltava um atrativo, uma beleza que nos encantasse. E rodamos mais um pouco, um solavanco aqui, uma panelinha ali, até avistarmos uma placa simpática, que avisava a existência de um paradouro alguns quilômetros a frente. Nisso a BR 101 se torna mais verde, a sombra das árvores refresca o ar e em meio a isso lá está ele, no Km 388 da BR 101, um oásis em meio a poluição, como bem indica o nome: Natureza Viva, sua parada ecológica. 


Saltamos felizes e já fomos entrando para ver do que se tratava. De inicio um pequeno lago cheio de Carpas, vermelhas e negras. Bom, eu já fiquei por ali, curtindo o movimento, as cores e fotografando - esqueci da sede! Há todo um simbolismo no entorno desses belos peixes com origem chinesa, mas mais conhecidos como japoneses. São sobreviventes, se transmutaram ao longo dos séculos para garantirem a sobrevivência da espécie, são guerreiros. E por essas características, deram origem a lenda do Dragão, que diz que ao vencerem o rio bravo na piracema, se transformariam em dragões como recompensa - acabaram se transformando em simbolo de força e perseverança. 



Trancoso reinaria em nossos últimos dias na Bahia, dali um pulinho até Salvador, um cochilo e de volta ao Sul. Não fazia parte de meu roteirinho "Pelos Caminhos de Jorge", seriam dias quase que descompromissados. 

Meu compromisso naqueles dias seria só com o Mar, uma parada para conversar com as ondas, reabastecer o espirito, descansar nas espreguiçadeiras, antes de retomar minhas atividades, dar inicio ao ano de 2014.

E onde ficar, na Praia ou no Quadrado? Dar preferência pelo Dia ou pela Noite - pelo Sol ou pela Lua? Atividades estressantes (!) como banho de mar, caminhar nas areias e curtir o sol costumam acabar comigo, então dei preferência pela hospedagem perto do movimento noturno. Chegar cansada, tomar um banho gostoso, curtir um pouquinho o ar condicionado e ter que pegar o carro para se deslocar em meio a muvuca? Achar vaga? Melhor não arriscar, escolhi ficar pertinho do movimento noturno, a dois passinhos do mundo, no Quadrado: assim o Hotel da Praça entrou em nossas vidas.



No Quadrado, junto à badalação noturna de Trancoso, uma hospedagem de charme, colorida, quase um paraíso! Cruzar o portão e ter as mais variadas opções em bares, restaurantes, lojas e galerias de arte, além de curtir caminhadas maravilhosas no entorno do gramado, a luz da Lua e das Estrelas, foi encerrar nossa aventura baiana com gostinho de quero mais!!






"Eu vou contar uma história, uma história de espantar".
Romanceiro Popular



Com essa frase Jorge Amado inicia o maior romance acerca da formação da zona cacaueira da Bahia, publicado em 1943. E onde eu entro nisso, onde nasce minha paixão por esse livro, lido e relido mais de uma dezena de vezes? Aproximadamente 38 anos após, quando vi uma capa de cores fortes sobre a mesa de cabeceira de minha irmã (uma edição do Círculo do Livro) e, mesmo alertada de que não era próprio para minha idade o li escondidinha - o proibido sempre tem um aroma especial. Foi a primeira obra do escritor baiano a passar por minhas mãos.



As imagens criadas ainda na infância, foram se transformando, se aprimorando, dentro de uma atmosfera cada vez mais critica acerca do universo social e político que se entrelaçaram na formação da sociedade que conhecemos, até a última leitura ao final de 2013, agora mais para entrar no clima da trip. Um romance que povoou meu imaginário, que despertou em mim um desejo, inúmeras vezes adiado, de conhecer Ilhéus, seu entorno, caminhar por suas ruas.

E o dia de percorrer as "Terras do Sem Fim" chegou e rodamos por aqueles caminhos, de Salvador a Ilhéus e de Ilhéus a Itabúna (antiga Tabocas), pelas estradas, pelos pastos e plantações que se formaram nas antigas matas do Sequeiro Grande. 


Ilhéus e seus habitantes estiveram presentes no imaginário de Jorge, tanto na critica politica quanto social e são o cerne de dois de seus principais romances: Gabriela, Cravo e Canela e de Terras do Sem Fim. Ambas histórias seguiram comigo, em minha bagagem emotiva. Mas ao chegar naquelas terras, embora tudo que se veja e que se ouça seja em torno de Gabriela, eram as histórias do Sem Fim que eu vislumbrava a cada metro de estrada, a cada sede de fazenda cacaueira, a cada esquina. Então, Ilhéus foi um misto, da alegria e sensualidade de Gabriela, as tocaias arquitetadas pelos Badarós. E, a todo instante, aquela frase voltava, sempre marcante: 

"... a melhor terra do mundo para o plantio do cacau, aquela terra adubada com sangue". 

A história do Cacau se mistura a história do escritor, desde seu nascimento na Fazenda Auricina até sua mudança para Ilhéus. Alguns biógrafos dizem que a mudança ocorreu ainda na infância do escritor, devido a um surto de varíola na região. Mas o que se ouve a voz corrente e pelos guias que acompanhavam grupos pela cidade é que a família passou a residir em Ilhéus após o patriarca ser gravemente ferido em uma tocaia - sim, seu pai foi também um desbravador, um sergipano que abriu a mata e plantou uma fazenda com o fruto dourado.



"... o que desejo é que nesta Casa o sentido da vida da Bahia esteja presente e que 
isto seja o sentimento de sua existência. 
Que ao lado da pesquisa e 
do estudo, seja um local de encontro, de intercâmbio
cultural entre a Bahia e outros lugares..."
Jorge Amado



Andar "Pelos Caminhos de Jorge" teve muito de intuitivo, nem tudo foi roteirinho na mão. Sabíamos as cidades que visitaríamos, as razões de irmos a cada uma delas e só. De resto, foi chegar e curtir, sem pressa, sem relógio e sem roteiro (sempre faço isso, com seus ônus e bônus). Assim foi com Salvador.

Estivemos na cidade em três oportunidades ao longo dos caminhos percorridos, foi nossa sede. Havia pensado em visitar a Fundação Casa de Jorge Amado no dia em que aterrizamos, mas as andanças foram jogando nossa chegada ao Pelourinho para o final da tarde, a noite caiu e a visita foi adiada para nosso retorno à cidade. 


Estaria tudo dentro do planejado se no dia da visita, depois de uma quebrada aqui e outra ali pelas ruas de pedras irregulares do Pelô, ladeira acima, ladeira abaixo, eu não tivesse apagado da memória o ponto principal do roteiro. E meu encontro com Jorge ficou para a última manhã em terras baianas, depois de muita estrada no dia anterior. Mas sabe que foi bom? Percorrer os caminhos, sentir as histórias, foi dando uma intimidade que ao chegarmos na sede azul, parecia daquelas visitas que se fazem aos amigos de longa data. Fechei meu roteirinho temático com um sabor especial (inclusive das empadinhas e docinhos da cafeteria).


O Largo do Pelourinho fervilhava no horário de almoço de um dia ensolarado, turistas se acotovelando e nós miramos a ladeira e descemos em busca da Fundação - vá que a maluca esquecesse de novo o que havia ido fazer lá, não é mesmo? Ao entrar naquela casa foi como ser recebida, efetivamente, por um casal de amigos - foi especial.


Havíamos visitado a Casa de Jorge Amado em Ilhéus, mas lá foram apenas histórias, enquanto na Fundação há Vida - você pisca e tem a impressão que eles passaram conversando, calmamente.


O Casarão é maravilhoso, junto a ladeira, com escadarias que servem de descanso aos passantes, junto a um conjunto arquitetônico bem conservado, colorido. Minhas melhores imagens da Bahia, seguramente.




Em seu interior encontramos muito das histórias de Jorge, distribuídas pelas paredes, pelas capas de seus livros expostas nos ambientes. Lá estão também muitos de seus objetos particulares, algumas de suas camisas extravagantes e características, além de seu fardão da Academia Brasileira de Letras - e que cadeira mais merecida, não acham?


Toda vez que ouço ou pronuncio a palavra "fardão" vem a cabeça, automaticamente, "Farda, fardão, camisola de dormir". Mas, no caso dele, não sem sentido. Ficção e realidade que se misturam - no livro, como na Vida.


As histórias de Jorge saíram das ruas, da vida para as páginas de seus muitos livros, um tantão de realidade, uma pitada de ficção, algumas vezes na ordem inversa, mas sempre com doses bem mescladas, para o encantamento de gerações. E vejam quem encontrei por aquelas paredes...


Embora Gabriela seja uma obra notória, para mim Jorge sempre esteve muito mais pelas páginas de Tieta, Terras do Sem Fim, Jubiabá, Teresa Batista e alguns outros - certamente por tê-los em casa e poder reler sempre que desejava. E olha que painel lindo esse de Tieta do Agreste:


Como era lúdico o trabalho: datilografado, lido, revisado, datilografado - nada de copiar, colar e deletar. A demora que ambientava, que permitia as personagens um certo amadurecimento, tempo para criar laços. Em pensar que já usei muito uma máquina idêntica a essa...


E da leitura de textos afixados nas paredes, a dedicatória de Zélia, você caminha como se estivesse batendo um papo especial com aquele amigo virtual de séculos e que somente agora teve a oportunidade de abraçar.

Zélia, daqueles amores além da Vida...


A estrutura é mega bem cuidada, os poucos atendentes são solícitos, mas não interferem na visita. Há espaços apropriados para descansar, curtir entrevistas de Jorge, de Zélia ou apenas pensar na Vida.


Para quem como nós chegou "com o estômago grudado nas costelas", há o simpático Café Teatro Zélia Gattai, com muitas delicias. Além de salgados diversos, muitos doces e, entre esses, alguns da preferência do dono da Casa: docinhos de leite, de cajú, cocadas, entre outros. Não resisti e trouxe para o Sul uma sacolinha deles para partilhar com os familiares, para que eles aproveitassem um pouco do gostinho doce que foi conhecer a Casa de Jorge.



Se você é doidinho por uma lembrancinha, uma bugiganga, no térreo junto a saída tem uma loja cheia delas: camisetas, canecas, lápis... Definitivamente, o espirito consumista não me acompanhou nessas férias!

E a sobremesa? Não foram os docinhos da sacolinha, mas um super sorvete da Cubana, logo ao ladinho.


A Fundação possui site com todas as informações para programares sua visita:  http://www.jorgeamado.org.br/







"SILÊNCIO E SOLIDÃO, O RIO PENETRA O MAR ADENTRO NO OCEANO SEM limites
sob o céu despejado, o fim e o começo. Dunas imensas,
límpidas montanhas de areia, a menina correndo
igual a uma cabra para o alto..."

* assim começa Tieta do Agreste, de Jorge Amado


Rodamos "Pelos Caminhos de Jorge", cortamos estradas, navegamos rios e, finalmente, fincamos os pés na terra de onde saiu o barro que moldou a morena mais sedutora do agreste, Tieta. 

Do Rio Real as dunas de areias dançantes, do pequenino vilarejo ao mar, com passos serenos descobrimos Mangue Seco. 




Quando decidimos cortar a Bahia, seguindo as letras de Jorge, escolhemos começar rumo Norte, saindo de Salvador pela Costa Verde, em direção a Sergipe. Fomos comemorar o aniversário de Naiá na calmaria de um lugarejo de pouca badalação, lugar de curtir o barulho dos ventos nos coqueiros, de acompanhar as marés, o vai-e-vem das águas do rio. Fomos passear pelas ruas de areia, por onde Jorge andou e se inspirou, por onde as palavras ganharam forma e se transformaram numa linda história de superações e resgate. 


Como não nos hospedamos no centrinho do pequeno vilarejo, aproveitávamos o final das tardes para visitá-lo. Uma pequena caminhada pelas margens do Rio Real, alguns passos por dentro d'água, margeando o paredão de pedras e já estávamos nas ruas de areia do povoado. Sim, um pequeno núcleo urbano no entorno de uma Capela, azul como o céu. 




Algumas poucas lojinhas e uma sorveteria, além de discretas pousadas e restaurantes, tudo muito singelo. Lugar para ouvir o vento, curtir os pássaros e deixar a imaginação voar, livre, para vislumbrar os personagens nas esquinas, pelas casas... Não foi difícil ouvir Perpétua vociferando em nome do Senhor ou sentir o perfume de Tieta trazido pela brisa que insistia em soprar. Parecia que a qualquer momento uma das écharpes da bela personagem seria levada pelos ventos e rolaria pelas areias brancas como nuvens, como na novela que tornou o livro ainda mais conhecido e que coloriu nosso imaginário. 




Sentar na varanda da sorveteria de Dona Sula, prima de Jorge ao que dizem, foi como estarmos em nossa casa, eu tomando sorvete de cupuaçu, antes de um picolé de tangerina (além de gorda, repetitiva - sim, repeti a sequência em todas as visitas). A tranquilidade do local, a simplicidade dos moradores que perambulam por ali, aquele boa tarde seguido sempre de um sorriso, nos deram uma acolhida especial. Sentadas naquela varanda, deixávamos o tempo passar, enquanto fazíamos planos para 2014, sonhadoras como sempre. Depois? Mais uma caminhadinha, a passada pelo rio já com a maré acima dos joelhos e com aqueles tons dourados que antecedem o anoitecer. 





Gosto de me perder e me achar pelos caminhos, pela vida, pelas histórias, mas não pelas estradas. Quando digo que nos perdemos e nos achamos "Pelos Caminhos de Jorge", hora tem sentido figurado, hora tem sentido literal. No caso de Belmonte, o sentido é literal, mas foi encantador. 

Depois de nossa parada em Porto Seguro, decidimos fazer parte do caminho até Salvador pelas rodoviais estaduais, para fugir da BR 101 enquanto fosse possível e para aproveitarmos outros ares, novas paisagens. A escolha se mostrou sensata, rodovias melhor conservadas e com um pequeno fluxo de veículos. E as paisagens são belíssimas, lindos e extensos coqueirais, águas azuis. E assim rodamos, rodamos, uma paradinha para um passeio de Balsa, mais um pouco de estrada. As praias agitadíssimas de Porto Seguro foram ficando para trás, os povoados foram espaçando, as casas foram desaparecendo e, do nada, só coqueiros, vacas, mais coqueiros e sempre o mar azul a nossa direita, majestoso. 



Rodando, o ar condicionado bombando, musiquinha de fundo, boa conversa e apenas o GPS nos guiando, quando não ficava sem sinal, claro. Divertido, mas tão divertido, que deixamos passar nossa saída a esquerda e seguimos por mais alguns quilômetros - que falta fazem os mapas de papel, não? Mas foram poucos e surpreendentes quilômetros. Quando percebemos estávamos chegando em Belmonte: olha que bonitinha a placa! E a placa, além de nos alertar para o erro, causou aquela curiosidade, típica dos viajantes - quem aí não tem aquela coceirinha quando se depara com uma frase assim: "Cidade Genuína de Portugal"? A curiosidade nos fez seguir, doar àquele momento minutos que sabíamos que nos seriam preciosos quando a noite caísse e já estivéssemos na BR 101, saltando panelinhas. Seguimos, passamos por um conjunto mal conservado de residências, quase voltamos, mas alguns metros a frente as surpresas começaram a se mostrar, foram muitas, por muitas quadras e para finalizar o Rio, o Sol, um meio de tarde fantástico. 






Ao pensarmos as férias de verão 2014, selecionamos alguns destinos em potencial, mas faltava algum elemento, um ingrediente para a decisão. Pois bem, acordei numa manhã de outubro com a razão para escolher a Bahia: percorrer os caminhos das histórias de Jorge Amado. 


Apesar do destino de verão ter que contar com praias, dessa feita foram coadjuvantes na escolha do roteiro por terras baianas. Não houve preocupação com as eventuais belezas dos destinos, a intenção passou a ser a de dar cores, aromas e sabores às letras de Jorge. E foi o que fizemos, ao longo de 12 dias. 

O roteiro ficou apertadinho, distribuído de Sul a Norte, de Norte a Sul. Nos perdemos em muitos quilômetros, em muitas curvas e nos deixamos surpreender.  


Andamos pelos caminhos de Tonico Bastos, dos Badarós, de Gabriela e de Tieta. Demos tons ao imaginário, retiramos das páginas de "Terras do Sem Fim", de "Gabriela, Cravo e Canela" e de "Tieta do Agreste" os personagens e os jogamos na Vida, nas ruas e nas areias da Bahia. De certa forma, nosso olhar desbravou caminhos que para nós já eram em parte conhecidos, imaginados. Das tocaias pelos caminhos entre Ilhéus e Itabuna, às areias dançantes por onde Tieta desfilou sua ousadia. Da Fundação Casa de Jorge Amado no Pelourinho, subindo a Mangue Seco e descendo a Ilhéus. De Norte a Sul, uma aventura medida em quilômetros e feita de muitas histórias, de felicidade e companheirismo. Histórias que povoarão essa Casa ao longo do tempo, na medida da inspiração, de forma que as muitas letras que por aqui chegarem tragam a emoção dos momentos vividos, das pequenas descobertas, da gente daquelas terras. Histórias nascidas de emoções, de cores e de muitos sabores.  



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