Cuba, o turismo e as recentes mudanças.





Decidimos ir para Havana, queríamos conhecer antes dos efeitos de uma maior abertura. Como fazê-lo?  Pesquisar muito, ver todas as restrições, cuidados necessários, entre outros. Fizemos o tema de casa e fomos. Deu tudo certo, foi maravilhoso.

Voamos para Havana no dia em que Cuba e Estados Unidos se encontraram na Cúpula das Américas, no Panamá. Desde dezembro representantes dos países negociam abertamente a retomada de relações, primeiramente diplomáticas e, num segundo momento, comerciais. Isso é impactante para os cubanos.

As representações diplomáticas já estão em vias de serem reabertas, inclusive o prédio que abriga a Missão Americana em Havana já passa por reformas para em breve tremular a bandeira americana junto ao Malecón, então como Embaixada. Somente não aconteceu na semana da Cúpula das Américas pois não seria bilateral, eis que há impedimentos para a representação cubana em Washington, ainda. Como resultado do encontro, foi solicitado por Obama a retirada de Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo, o que deve ocorrer em até quarenta e cinco dias.



Quem estava em Havana no último final-de-semana? O prefeito de New York, participando de reuniões preparatórias para o fechamento de contratos, andando nos carrões americanos da década de 50 que transportam turistas e sendo simpático, ao extremo. Normal, as tratativas estão avançando pelo fato de haver interesses dos dois lados.


Nada mudará instantaneamente, mas as tratativas que vem se desenrolando nos últimos cinco anos já aliviaram muitas sanções e facilitaram a comunicação entre os países e seus residentes. Na prática, muito já se alterou na relação entre os países. Não há correio direto, o trânsito de correspondências se dá via México. Há três anos as correspondências normais enviadas de Cuba (cartas, cartões e postais até 500 gramas) circulam livremente, sem que sejam cadastrados os destinatários americanos ou estrangeiros residentes e sem que isso seja objeto de qualquer controle ou sanção pelos americanos. Embalagens maiores vão para um controle especial (normalmente são devolvidas) e produtos cubanos (olha os charutos e livros ai) não entram em território americano, em vista do embargo comercial.  Remessas financeiras que partem para Cuba são limitadas a 500 dólares por trimestre (a partir de agora os valores serão de até 2000), mas são feitas de forma regular, movimentam a economia cubana e sustentam muitas famílias.  Familiares que moram nos Estados Unidos enviam eletrodomésticos comprados via Panamá e que são entregues em Havana. O site americano Airbnb lançou no final de março a tag Cuba, com mais de trezentos imóveis cadastrados.   

Americanos fazem turismo ostensivo em Cuba, mas seguindo a regulamentação do governo americano. Fora viagens por razões profissionais, cientificas e humanitárias, o turismo é permitido na modalidade "empacotada", via agências autorizadas. As permissões são concedidas pelo período exato do pacote contratado e Havana recebeu, apenas no primeiro trimestre desse ano, quase cinquenta mil americanos (em 2014 foram cem mil turistas). Há turismo americano independente? Sim e com milhares de adeptos anualmente, que entram via Panamá ou Porto Rico, sem serem importunados no retorno - com a decisão de carimbar os passaportes, como será?  Desde 10/04 todos os passaportes são carimbados na imigração cubana, indistintamente.


Vivemos um pouco desse clima, entre novidade e ansiedade, curiosidade e esperança. Os dólares americanos são bem vindos, o comércio agradece. Cubanos esperam ser beneficiados com o implemento do comércio e abertura de empresas, contam com o aumento dos empregos e se preocupam por estarem virtualmente desatualizados. É um misto de esperança e temor. Os mais entusiasmados são os estrangeiros, que enxergam a abertura como uma questão humanitária.

Celulares são comuns em Havana, todos possuem. O acesso à internet, por outro lado, é caro e pago apenas em peso conversível. Entendem o funcionamento da rede mundial,  muitos já experimentaram, mas é uma realidade distante. Usam muito o correio eletrônico, através dos celulares.


Estrangeiros acessam a internet livremente. Acessei o New York Times, facilmente. Alguns sites demoram ou caem, mas me parece ser pela má qualidade do sinal. O Facebook, bloqueado em alguns países, funciona normalmente – inclusive, a tv estatal tem perfil nas redes sociais.

Cubanos que possuem melhores condições, que recebem turistas ou lhes prestam qualquer tipo de serviço, normalmente possuem familiares nos EUA e são esses os financiadores dos empreendimentos. Há milhares de cubanos residindo nos Estados Unidos legalmente e que visitam os familiares com regularidade, de acordo com as políticas americanas. Os filhos de nossos senhorios, que residem em Chicago, chegarão nos próximos dias, para as comemorações do Dia das Mães.

Canadá, Espanha e outros países europeus negociam livremente com Cuba e mantém empresas de capital misto com os cubanos. As maiores empresas nos pareceram ser canadenses, especialmente na área de exploração de energia e espanholas, como a rede Meliã na área de turismo.

Mudou alguma coisa em Cuba? Há esperança no ar, precisam desse implemento nas relações para se abrirem ao comércio exterior. Não tem ilusões quanto ao rápido final do embargo econômico, mas sair da lista negra significa liberdade.



Para nós muitas coisas soaram estranhas, há um controle, uma falta de liberdade. Para quem vive numa República e é democrata por natureza, não tem como concordar ou achar romântico o regime cubano. Fora novelas brasileiras, a tv passa muitos desfiles militares e discursos. Livrarias, em regra, vendem apenas obras relacionadas ao regime e há poucos clássicos disponíveis. Há muita doutrinação, mas jovens estão encantados por Obama, símbolo de liberdade e prosperidade. 

Jamais concordamos ou achamos romântico o regime cubano, voltamos ainda mais cheias de certezas, mas trouxemos na memória e no coração as cores de uma terra linda, seus sons e o sorriso de um povo sofrido e que anda com o coração transbordando de esperanças. 

10 comentários

  1. AMEI esse post!!!! Muito legal suas impressões... estamos com muita vontade de ir pra lá antes da abertura total :) ...

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    1. Obrigada. Apressamos nossa visita, pela mesma razão. É o momento, tudo se alterará muito rápido, embora muitos preguem o contrário. BjO!

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  2. Amei!!
    Estou querendo tanto ir a Cuba, ver as cores, os sons, os cheiros...
    Deve ter sido uma experiência incrível.
    Beijos

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    1. Eu estou esperando sua viagem, para trocarmos figurinhas quanto aos sentimentos e impressões. BjO!!!

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  3. Adorei o Post. Esses dias acompanhando seus relatos da viagem, fiquei impressionado. Doidinho pra ir logo...hahahah....bjs..=:)

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    1. Uma viagem deliciosa e que permite uma viagem, dentro da viagem! BjO!!

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  4. Já tinha lido, mas vim reler e agora ler os posts novos! =)

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  5. Oi, queria perguntar: como foste? Por agência ou comprou tudo separado?
    Obrigada!

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    1. Oi Pauline. Montamos nosso próprio roteiro e fomos, sem maiores dificuldades. Voamos Copa, com conexão na Cidade do Panamá. Já tinhamos contratado transfer aero/casa e hospedagem, por e-mail, com antecedência. Sacamos dinheiro ainda no aero e fomos curtir Havana. Tem outros posts onde falo da hospedagem na Casa de Margot (simples, mas super bem localizada), do Luiz (com quem mantive todos os contatos por e-mail e que nos recebeu no aero) e do Aldo (o taxista que nos levou para Varadero) - ali tem os contatos, inclusive. Dê uma olhada, qualquer dúvida é só chamar. BjO!

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