Pìenza: como um presente!



A Itália não estava em meus planos para 2014, pois queria muito percorrer o interior de Portugal, de norte a sul, na primavera. Mas férias tem que ser ao gosto da dupla e, mesmo sendo mandona que só, resolvi ouvir e aceitar argumentos alheios. Assim, entre outras peripécias, a Toscana foi eleita como o principal destino. 

No dia que comecei a escolher as cidades, para traçar o roteiro, comentei com uma amiga e ela em sua resposta colocou o que seria o dela, uma lista de pequenas e lindas cidades. A maioria estava na minha singela listinha, menos ela: Pienza! 


Quando referi que ela ainda não havia aparecido em minhas pesquisas, recebi o alerta que não deveria deixá-la de fora, que merecia uma visita. Coloquei na lista provisória. Passadas algumas semanas fechei o roteiro, com as cidades onde nos hospedaríamos e com os principais passeios e, não sei como, ela acabou ficando de fora. Alguns dias antes da viagem, ao retomarmos a conversa, em meio aos comentários sobre o roteiro, ela escreve: não vejo Pienza, não a deixe de fora! Voltei para o mapa e a encaixei numa escapada de Montalcino, onde montaríamos acampamento por alguns dias para explorar o Val d'Orcia. A insistência aguçou minha curiosidade, quando resolvi que a visitaria sem ler nada sobre ela ou ver imagens, queria o impacto da descoberta. 

No dia marcado, lá fomos nós, felizes pelas estradas da Toscana. Pena que São Pedro não entendeu a intenção e mandou chuva e trovoadas, transformando o dia em quase noite. Pienza para nós, foi, então, uma mescla de chuva e sol, de pequenas aberturas azuis no céu e de uma brisa gelada soprando, insistente. 
  

Andei por aquelas ruas de pedras bem menos do que desejava, deixando em cada curva um gostinho de quero mais, quem sabe para um retorno. Não fiz grandes visitas, andei, andei e fotografei muito, apesar dos tons tão pouco solares. 




A pequena me encantou e de certa forma criou, para mim, um elo entre duas pessoas que viviam uma fase de descobrimentos, desajustes e ajustes, de uma amizade tão incipiente. Nunca é fácil recebermos pessoas novas na vida, apararmos arestas, criarmos um ambiente gostoso e que seja na medida para ambas. E como sou uma criatura dada a simbolismos, gosto deles para combater um pouco minha quietude e pragmatismo, a elegi como um presente - gosto tanto de dar letras, amei receber imagens e sensações. De lá enviei um postal (outra grande paixão) onde referi: "Fui a XX para conhecê-la e, por conhecê-la, conheci a linda Pienza" - a idéia foi essa, em palavras aproximadas, claro. 

Cheia de turistas, sonhei em passear por aquelas ruas num final de tarde ensolarado e calmo. Mas não deixei que a umidade retirasse o brilho daquelas horas, curti cada curva como se fosse a última vez (e talvez tenha sido). Como não se encantar com uma cidade com nomes de ruas tão sugestivos? Via della Fortuna, Via dell'Amore, Via Buia, entre outras. 







De todos os pequenos vilarejos, esse foi o que nos recebeu mais colorido. Havia vida naquelas janelas, nos lembrando que são muralhas habitadas, em constante renovação. 





O comércio, cheio de lojinhas encantadoras, algumas quinquilharias...




... e a vitrine mais bonita de minha primavera por cidades da Europa - diga se essas borboletas não são o máximo?!! 



A vista dos campos toscanos ganha tons diversos, abrangentes e profundos, a partir das muralhas por detrás da Igreja. E como são lindos e verdes os campos da Toscana!! 




O vento que soprava forte, insistente e gelado fez com que permanecesse observando a vista panorâmica menos tempo do que desejei, mas a Ná já havia me abandonado e estava distante, escondida do vento, me chamando insistentemente. Afinal, era hora de ganhar as ruas e encontrar um local para uma refeição e uma bebida quente. 






O lanche estava razoável, mas as bebidas estavam deliciosas. 



Pelas ruas percebemos a principal produção local: Cacio Pecorino. Para alguém que vem da mais expressiva região produtora de Pecoras do Rio Grande do Sul, um encanto para os sentidos. Bom, para mim, queijo do leite das ovelhas - a expressão "pecora" só entrou na minha vida após conhecer a Ná, "gringa" ali do norte do Estado. Os queijos, junto aos Brunellos da região, estão expostos por todos os lados - a galera faz fila nas queijarias para provar as diferentes receitas de queijos (isso nos lembrou, imediatamente, da FestQueijo). 



Como nem só de belezas naturais e de sentidos íntimos foi nosso passeio, fizemos o circuito cultural, aproveitando suas belezas arquitetônicas. O pequeno feudo, anteriormente chamado de Corsignano, teve seu nome alterado para Pienza após a eleição do Papa Pio II. Além da alteração da designação, ele revigorou sua cidade natal, a redesenhando em estilo renascentista, com pitadas góticas. 




Por iniciativa do Papa a Catedral foi reconstruída. Foram construídos o Palazzo Piccolomini e a Prefeitura (Palazzo Comunale). Como a cidade passou a ser usada nas férias do Pontificie, foi construído um Palácio Episcopal (para os Bispos) e vários outros, para os Cardeais. A maioria das construções, com destinações posteriores diversas, ainda fazem parte do hoje considerado Patrimônio Cultural pela Unesco.  Mas qual razão levou a pequena a entrar para um rol tão significativo? Por ter sido uma cidade projetada, planejada a partir de conceitos renascentistas, hoje designados de conceitos urbanísticos humanistas. 





Foi um pouco estranho chegar sem saber nadinha da história do lugar, mas com o desejo de sair sabendo muito, de entender o que estava vendo "in loco". De placa em placa, somado a um singelo conhecimento arquitetônico, deu para ter uma idéia. No local há uma livraria/papelaria e, enquanto a Ná adquiria mapas para sua coleção e escolhia uns postais para mim, tratei de ler o que havia por ali. Uma observação aqui, outra ali e voltei para a Piazza del Duomo mais senhora da história - e ai o tempo correu, enquanto analisava a mistura de estilos empregada na Catedral de Santa Maria Assunta, a Duomo.  


Projetada por Gamgardelli, de acordo com as especificações do Papa Pio II, a Duomo equilibra os estilos renascentista e gótico em sua fachada principal. O interior, dedicado a Maria, com os chamados temas marianos. O campanário de inspiração germânica, foi um pedido especial do Papa.  






Meu gosto pessoal, entretanto, tende ao singelo, as pequenas joias - e Pìenza tem a sua. A Igreja de São Francisco é linda, com a história aos pedaços por suas paredes (afrescos de Bindoccio e de Meo di Pero) - nessa entrei por duas vezes e foi onde mais permaneci. É uma sobrevivente da Corsignano original e recebe os fiéis com seu portal gótico. 








Tão simples a casinha de São Francisco, mas tão doce...




O passeio de poucas horas foi pouco para explorar os palácios e demais construções da pequena cidade planejada. Há muitas belezas espalhadas, algumas apenas avistadas à distância, como a Pieve dei Santi Vito e Modesto de Corsiniano, alguns quilômetros distante da cidade, podendo ser observada a partir das muralhas. 

Meu pequeno e lindo presente está encravado no Val d'Orcia, pertinho de Montepulciano. Saímos de Montalcino, onde estávamos hospedadas e a incluimos no roteiro com Montepulciano e San Quirico d'Orcia. Escolhemos ir até Montepulciano, a mais distante - pouco mais de 30Km, e vir parando no retorno. Assim, pegamos bastante chuva e vento em Montepulciano, chuviscos e frio em Pienza e, finalmente, uma tarde de sol em San Quirico. Um bate-e-volta suave, por lindas estradas, com paisagens de cinema.




19 comentários

  1. Debora Godoy Segnini1 de agosto de 2014 às 21:38

    Mas que lugar lindo!!!!!!! Cada dia mais incluo a Itália na minha lista...... Fotos lindas, relato gostoso de ler..... Parabéns!!!! Amo ainda mais o destino.
    Um beijo
    Debora

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    1. E não é? Lindo, lindo. E a Igrejinha de São Francisco é lúdica, dá para ir lendo a história aos pedaços, nos afrescos. Um passeio inesquecível! BjO!!

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  2. Muito bonita essa cidade e com uma vista incrivel dos vales. Tenho sonho de conhecer, mas ainda não tive oportunidade. Parabéns. João Augusto

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  3. Ola Paula,
    Parabens pelo blog! Lindas imagens!!
    Também sou advogada e tenho um blog de viagens.
    Sucesso.
    Beijos
    Thais

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  4. Que delicia de história, imagens lindas e sempre um gostinho de quero mais. Conheci Pienza, num dia muito frio, uma chuvarada e um vento terriveis. Gostaria que bons ventos me levassem de volta, para aproveitar as possibilidades da pequena cidade, mas acho dificil retornar. Além da história do postal, apaixonante, fiquei emocionada com uma amizade tão bonita e que gere esse tipo de presente, os melhores da vida, sem qualquer dúvida. Parabéns para ambas. Um beijinho para você.

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    1. Local muito especial, amiga mais especial ainda. Encontros lindos, efetivamente. BjO!!

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  5. Adorei, vou tentar ir. Parabéns adorei o texto. bj

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  6. mais do que uma cidade, ela parece uma pérola. Adorei, e a propósito: a vitrine é linda mesmo!
    Poxa, eu ainda não conheci a minha Itália, das coisas que conheço de lá é tudo meio meia boca. preciso explorar mais, com certeza.

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    1. Itália é inesgotável e sempre quero retornar, esquecendo o quanto do mundo não conheço. Mas bem, que seja com prazer e está valendo, né? BjO!

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  7. Como a Itália é cheia de cidadezinhas lindas né? Já foi difícil fazer meu roteiro para 20 e tantos dias no norte do país, não quero nem ver quando chegar a vez da Toscana!!! rs

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    1. Quero partir para a Sicilia, antes de retornar e curtir mais da Toscana, me embretar pelo Vêneto.... BjO

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  8. Que lindinha!!! Não conhecia esta e já me apaixonei! Com queijos e Brunellos então... Preciso conhecer muito da Itália! Bj

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  9. Que lugar ENCANTADOR. Dá vontade de ficar passando horas e horas.

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