Meu reencontro com o mar, gaúcho.





Esse é um post peculiar, escrito em 01/03/2015 e que ficou perdido no bloco de notas do smartphone. Está aqui exatamente com as palavras que lancei enquanto sentada junto ao mar, curtindo o vai e vem das ondas e o silêncio de uma praia já vazia, ao final do veraneio. 


Depois de anos afastada, buscando refúgio em mares distantes, chegou a hora de encontrar um porto, jogar a âncora, lançar amarras e achar onde esticar as pernas para deixar o tempo rolar. 


Como decidir entre águas serenas e mornas e a fúria das ondas da infância? Como optar entre um banho de mar ou o som das ondas que invade a casa, que entra pelas frestas em noites típicas do sul? 


Queria proximidade, uma amizade para encontros fortuitos. Isso, só as praias gaúchas poderiam proporcionar, alguns quilômetros que possibilitam sair numa sexta de  noite e regressar numa tarde de domingo. Abri mão de ondas azuis e serenas pelo mar temperamental, tão gaúcho, tão meu, tão eu. Plantei pés nas areias e caminhos dos mares do sul. 




Foi um reencontro delicioso, me vi criança correndo com os cabelos encaracolados ao vento, esbravejando com as tatuíras, subindo e descendo cômoros e sonhando. Me reencontrei um pouco, em minha essência.


Como se encantar com águas com as cores dos rios, com o som dos ventos que varrem as areias, com a força de ondas bravas? Saindo para caminhar, pedalar, amar, para ver o mar!


Ancorei a embarcação em dezembro, antes da abertura da temporada, quando as ruas ainda se encontravam vazias, ocupadas apenas por seus moradores, antes de serem invadidas por milhares de veranistas, ávidos por sol e diversão. Esperei Papai Noel e, com os pés nas águas, saudei 2015 enquanto entregava meus pedidos à Rainha do Mar. 


Acompanhei a invasão, as ruas tomadas, os sons das multidões, até a despedida da temporada, quando surgem espaços livres nas areias, ruas e calçadas. Um ciclo, o primeiro de tantos verões. Curti! 



O que faz nosso litoral ser odiado, criticado? Seu temperamento, seus tons escuros e monocromáticos, suas águas frias, o nordestão. Não é um lugar para onde se convide amigos de longe, é lugar de gaúchos, gauchos e hermanos, de quem nasceu em terras desbravadas pelos fortes, de quem se habituou com a fúria da natureza. Na hora dos descanso, pandorgas (pipas) ao vento. 




Tantos detalhes formam essa terra, lhe dão aspectos tão próprios, nome e sobrenome. Famílias papeando em garagens, enquanto tomam um mate e esperam a carne assar. Reencontrar amigos de veraneio, contar causos, sorrir das histórias de sempre. Simplicidade, afinal. 

Ah, o Nordestão. Sinônimo de litoral gaúcho, aquele vento imponente, que faz voar chapéus e guarda-sóis, que impõe a montagem de tendas e gazebos. Aquele que muda o rumo da bola, mas que faz os pássaros artificiais voarem por sobre as ondas e areias. O mesmo que leva ao longe o aroma da carne assada, em churrasqueiras montadas junto ao mar. Combina? Não, mas dão um tom típico do povo que parte dos pampas ou que desce a serra em busca das águas gélidas e tão salgadas de nosso litoral. 



Cerveja, caipirinha? Para muitos apenas a cuia de chimarrão, com sua mistura quente sorvida sob o sol (juro que não entendo, mas me faz sentir em casa), que passa de mão em mão. 

E o repuxo? Força da natureza que joga os desavisados para o fundo e os atira além da arrebentação, de onde só se retorna nos braços dos salva-vidas. E são centenas de homens, ocupando simpáticas guaritas coloridas, sempre com um sorriso no rosto e olhos cravados nos movimentos do mar. 


Que após dois meses se quedam vazias, apenas como guardiãs das praias. 


Em quantos lugares temos chuveirinhos em cada acesso à praia? Não vivemos sem eles! 


Para aqueles que se rebelam contra as forças da natureza, um calçadão, uma ciclovia e muitas praças, ajardinadas. Praças onde jogar bocha, sentar e papear, jogar a canga e dormir nos gramados, dançar nas festas noturnas. E como permaneceram lotadas nos últimos sessenta dias!! Não mais, as vozes e carros desapareceram, acabou mais um veraneio. 


Tempo para os pássaros tomarem as habitações, descansarem pelas próximas estações. Sim, por essas bandas eles tem um resort, só deles. 


E qual a boa do final de tarde? Uma passeio a passos lentos pelo centrinho interiorano, um krep no palito e um sorvetinho de sobremesa. 



Para quando se anda distraído, flores e a companhia discreta das corujas buraqueiras. Ops, até apontar a câmera já entraram na residência, mas deixaram a porta aberta, como quem diz: pode chegar, a casa é sua! 





8 comentários

  1. Adoro seus textos tão poéticos. E esse veio com lindas imagens que só as completam.

    Beijos

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    1. Tem que ser uma venda casada, né? Texto e fotos, em harmonia. Manias... Obrigada!!! BjO!!

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  2. Lindo! Conheço bem este sentimento, com minha querida Boraceia. Só que no meu caso, minhas filhas cresceram e brincaram por lá. O poema que fez para a sua praia deixou-a tão linda,que dá até vontade de conhecerejeiras.

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    1. Já escrevi sobre as tatuiras e o ódio que sentia delas, demorei a acostumar com os pequenos animais. O mar só me traz boas recordações, desde sempre!!! BjO!!!

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  3. Adorei o texto. Me lembrei dos meus tempos em Torres. Que delícias buscar e rebuscar tatuíra na praia. E o vento? Sempre junto ao chimarrão. Me encanta as longas extensões de areia das nossas praias do sul. Tão únicas e tão gaúchas. Ah, o blog tá lindão. Adorei.

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  4. Lindo texto. Essas lembranças de infância são muito gostosas.As praias do Rio de Janeiro ainda tinham tatuís quando meus filhos eram pequenos, hoje eles fugiram de tanta gente e sujeira. As corujas buraqueiras são corujas mesmo ou são termos do vocabulário gauchês ? Sou apaixonada por corujas.

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    1. São corujas, sim. Percebes aqueles buracos nos cômoros (dunas) de areia na foto? Ali são as tocas onde elas moram. No Réveillon de 2007 nasceram filhotinhos e os fogos comemorativos foram cancelados, uma confusão sem fim. Elas moram ali, mas são tímidas e não quiseram aparecer na foto! BjO!!!

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