PITADAS DO RIO GRANDE: Festejos Farroupilhas


 
O dia 20 de setembro é feriado estadual no Rio Grande do Sul, pois é a data na qual em 1835 a então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul declarou independência do Governo Imperial, tornando-se a República Rio-Grandense. Claro que isso não se deu sem uma Guerra, a Revolução Farroupilha.
Aquela que também é conhecida como a Guerra dos Farrapos tinha caráter republicano, sendo a precursora de todo um movimento dito separatista que se espalhou pelo Brasil, mas que na sua gênese desejava muito mais a formação de um Estado Republicano do que propriamente deixar de pertencer ao Brasil – havia um repúdio ao Império. O conflito político se dava entre o modelo liberal (que propunham uma maior autonomia das províncias) e o unitário sustentado pelo Império.


Do ponto de vista econômico, a então província, que destinava sua produção basicamente ao mercado interno, sofria com alta taxação (tributação) de seus dois principais produtos à época: o charque e o couro. Com o câmbio desfavorável, especialmente no que se refere a carne e ao sal, os produtos vindos do Uruguai e da Argentina entravam no país a um custo bastante inferior, fazendo com que o produto gaúcho perdesse competitividade no mercado interno. Estava em risco à viabilidade econômica das charqueadas rio-grandenses. E partiu desses estancieiros a força propulsora do movimento revolucionário, que a ele destinaram homens, armas, cavalos e a própria vida.
Não foi uma Guerra perdida, foi nela que se talhou o povo gaúcho, o espírito libertário e republicano.  Mas não foi uma Guerra com vencedores. A Paz se deu pelo Tratado de Poncho Verde em 1845, mas nem todas suas determinações foram cumpridas e até hoje suscitam discussões. O principal aspecto descumprido foi à libertação dos negros que lutaram ao lado dos revolucionários – muitos deles conhecidos como Lanceiros Negros. Como se ter uma abolição da escravatura regionalizada? Alguns foram incorporados às forças imperiais, outros buscaram exílio no Uruguai, mas a maioria se refugiou em quilombos ou foram revendidos nos Mercados Negreiros do Rio de Janeiro.
O marco revolucionário, por outro lado, se manteve como essência de um povo que hoje revive anualmente as histórias de bravura, rediscute as causas e efeitos daquela Revolução, mas mais do que tudo se utiliza desse aspecto histórico para manter uma unidade histórica e tradicionalista. A partir disso temos a chamada SEMANA FARROUPILHA, que nos últimos anos foi se expandindo e já é chamada de FESTEJOS FARROUPILHAS, pois perduram por todo um mês.
Hoje se comemora no dia 20 de Setembro de cada ano o DIA DO GAÚCHO, dedicado a cultuar a bravura, a alegria e a força de um Povo.
No Parque Harmonia é montado pelas entidades tradicionalistas (CTGs e seus Piquetes) um grande acampamento, com a construção de galpões de madeira que abrigam as entidades, bem como restaurantes e lojas. Nesse espaço ao longo do mês que antecede o 20 de Setembro se vive e revive a cultura gaúcha, com pessoas em trajes típicos (pilchas), cavalos e outros animais, charretes e muito churrasco – símbolo máximo da culinária gaúcha.
Os festejos farroupilhas no Estado culminam com os Desfiles Farroupilhas por quase todas as cidades gaúchas. Nesses desfiles se reúnem integrantes das forças públicas e das entidades tradicionalistas, que levam as ruas um pouco da cultura gaúcha e de sua alegria. Em Porto Alegre se deu às margens do Rio Guaíba, reunindo além das entidades cívico-militares mais de 140 entidades tradicionalistas. Desfilaram pela Avenida mais de 3 mil pessoas, que somando-se aqueles que assistiam das arquibancadas, ultrapassaram 10 mil pessoas numa manhã ventosa pós ciclone extratropical.
 
 
 
 
 
"E o churasco estava cheiroso".

Porto Alegre, no entanto, não viu os festejos acabarem com o Desfile Tradicionalista. Desde 2003 o auge das comemorações tem sido o Desfile Temático Farroupilha, que a cada ano trabalha um tema proposto, com encenações e carros “alegóricos”. Nesse ano teve sua data transferida de 19 para 21/09, pois na noite agendada a cidade enfrentava um ciclone extratropical, que trouxe muito vento e chuva para a região.

O Desfile Temático contou com 1,5 mil participantes de 40 entidades tradicionalistas, além de 09 carros “alegóricos”. Mas a grande força da comemoração está no público: nesse ano, 15 mil pessoas acompanharam a apresentação, acomodadas em arquibancadas às margens do Rio Guaíba – numa área próxima ao acampamento farroupilha.



 
Em 2012 o tema foi NOSSAS RIQUEZAS, que objetivou despertar em tradicionalistas e no público o interesse pelo estudo das riquezas rio-grandenses, reavivar o orgulho de ser Gaúcho. As representações trouxeram um pouco da história econômica e étnica do Povo Gaúcho, sua formação ao longo dos séculos. Dividido em nove etapas, marcadas pelos carros “alegóricos” foram exaltadas as etnias, a fauna e flora, a água, a produção agrícola, a indústria, o comércio, a produção de energia, o extrativismo e a cultura.
A abertura, com o Hino Rio-Grandense, já bastou para levantar as arquibancadas e ditar o ritmo da Festa.
 
 
A etapa das Etnias falou da miscigenação dos povos formadores do Estado: Portugueses, Espanhóis, Alemães, Italianos e Afrodescendentes. Um pouco da história de cada um, com seus simbolismos – danças, religiosidade e culinária.
 
 



 
Na Fauna e Flora vieram os símbolos naturais do Rio Grande: a flor “brinco-de-princesa”, a “erva mate”, o “quero-quero”, o “bugio” e o “cavalo crioulo”. Ainda, a "jaguatirica" e a "ema".
 
 
 
 
Num terceiro momento se buscou destacar a importância e simbologia da Água como essência da vida e propulsora do desenvolvimento, para a conscientização da preservação dos recursos naturais.
Na produção agrícola a simbologia da origem da produção agrícola, do preparo da terra, do plantio e da colheita.

 
"As laranjas, verdadeiras, foram sendo colhidas
e distribuidas aos espectadores".

A Indústria surge com a chegada dos imigrantes alemães seguidos dos italianos anos mais tarde, a partir de pequenas indústrias familiares que favoreceram a formação e desenvolvimento do parque industrial gaúcho. Destaque para a indústria coureiro-calçadista, têxtil, vinícola e moveleira. Teve destaque a responsabilidade ambiental, através da reciclagem para sustentabilidade.
 

O Comércio deu destaque à origem nos mascates até a internet. Destaques para os tradicionais comércios denominados “secos e molhados”.
Na produção de energia tivemos uma volta ao passado, através dos lampiões e candeeiros de época. O surgimento e a história da Usina do gasômetro em Porto Alegre e a importância da energia no desenvolvimento social.


O extrativismo trouxe as pedras preciosas ou semipreciosas, o carvão que move as termelétricas, a areia e a madeira, tão importantes para o desenvolvimento do Estado. Foi dado destaque para a preservação ambiental.
Encerrando o Desfile e os Festejos Farroupilhas tivemos a ala da Cultura Gaúcha, através da valorização das manifestações típicas de nossa cultura, costumes, festividades, danças e literatura para a formação de uma identidade regional e para a difusão da cultura gauchesca.

 

No mês de setembro no Rio Grande do Sul, mais do que a beleza das flores da primavera , mais do que aproveitar os dias quentes e as noites frescas, se cultua séculos de história, se revive o espírito de lutas, se enche o peito de orgulho e a alma e o coração de forças para mais um ano. Venha viver Porto Alegre em Setembro!

2 comentários

  1. Paulinha! Como está você? Obrigada pelo carinho! Parabéns pelo post! Muito bem feito e cheio de informações e esclarecimentos!
    Desculpe pela demora em aparecer!.... Vem comer bolo comigo.... Num dos tópicos do dia 05....
    Tem post novo!
    Um abençoado e feliz final de semana!
    Abraço carinhoso!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com.br/

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    1. Hum, delicia... Hoje ainda passo no seu blog para ver!!! Abraços e um ótimo final de semana p vc tb!
      Abraços,
      Paula

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