Montalcino: o berço do Brunello e do Rosso.



Quando organizei nosso roteiro pela Toscana considerei algumas cidades que desejava visitar e inclui outras por razões estratégicas. Montalcino foi das que entrou na lista, num primeiro momento, por conta de sua localização, onde poderíamos montar acampamento por dois, três dias, visitando cidades vizinhas. 

Pincei no mapa e fui pesquisar, saber o que havia para ver e curtir além dos vinhos, claro. Uma fortaleza, parte histórica bem preservada, boa mesa, além de acesso privilegiado. Perfeita. 



Partimos de Siena imaginando chegar para o almoço, mas nos perdemos do relógio ao encontrar Buonconvento. Não há arrependimento, pois fomos nos permitindo curtir o que aparecia, readequando horários e, ao final, tudo saiu perfeito. Então, já era meio da tarde quando estacionamos junto a uma belíssima fortaleza. Deixamos o carro e seguimos a pé, por ruas encantadoras, como se tivéssemos sido sugadas por um túnel do tempo, até chegarmos em nosso hotel - não sabíamos por quais partes da cidade poderíamos trafegar e, por essa razão, fizemos essa primeira expedição caminhando, fotografando e papeando, sem pressa. 





Recepcionadas no hotel, mapa em mãos, fizemos outro caminho para buscar o carro (o hotel contava com estacionamento), mas tudo com calma, explorando aqui e acolá o que se mostrava, deixando o tempo correr, sem freios. E o que essa falta de pressa nos reservou? Entramos em nosso pequeno apartamento (uma sala enorme, com sofá cama e uma copa-cozinha, banheiro e um quarto delicioso), fomos largando as tralhas na sala (já estávamos cheias de comprinhas espalhadas pelo carro e resolvemos levá-las para os aposentos para dar uma organizada geral, separar roupas usadas para lavagem e etc) e partimos para espiar o quarto: quando abri a janela me deparei com uma imagem que não precisa de explicações ou legendas, que fala por si:



Pronto, Montalcino havia nos conquistado. O vale, aquelas casas de pedras, telhados em terracota, tudo ali como se o tempo tivesse dado aquela paradinha estratégica, acompanhado daquele dourado do sol, que começava a cair. Naquela janela nos debruçamos, nos deixamos levar contando telhadinhos, espiando ao longe. E a vista do janelão do banheiro? 


A cidade já havia nos conquistado quando saímos para visitar a fortaleza, aquela da chegada. No alto da colina, com um grande portão de acesso, com muralhas conservadas e poucos visitantes. Um lugar gostoso para uma parada demorada, para sentar sobre as muralhas, olhar ao longe e deixar a mente viajar. A cidade aproveita o local para festas da comunidade e eventos privados, mas naquele momento os poucos visitantes partiam e nós ficamos por ali, sentindo o vento, o silêncio e apreciando a vista belíssima. 





Nos separamos, caminhamos em silêncio, fotografamos. O lugar convidava a essa meditação, a essa falta de pressa, de compromisso. O vento já cantava, esfriando o corpo, que pedia abrigo. 





Voltamos para a cidade, andando pelas ruas, vendo a população que começava a arrumar os caminhos para as atividades noturnas, da sexta-feira da Paixão. 





Fomos explorando as ruelas, algumas lojinhas, até chegarmos ao centrinho, onde estão as lojas recheadas dos famosos vinhos Brunello e Rosso de Montalcino. 






A região possui vinhedos importantíssimos, eis que produtora da uva sangiovese grosso e possui selo próprio. Já conhecíamos os maravilhosos vinhos, mas minha companheirinha de aventuras não se furtou de passar horas por entre prateleiras, colhendo informações, degustando e comprando lembrancinhas para trazer para casa - e me arrastando com ela, claro. 





Fiz questão de fotografar marcas, safras e preços, para futuras comparações quando de nossas expedições as fronteiras uruguaias, claro. E tem para todos os gostos e bolsos, não? 




Fora as lojas especializadas nos vinhos da região, há cafés, sorveterias, farmácia, cantinas e alguns restaurantes - todos com o charme histórico das pedras tão bem talhadas. 






Durante o dia aproveitávamos para rodar, tanto pelos quadriláteros mais afastados da própria cidade, como pelas cidades vizinhas. 







Ao cair da noite, uma caminhadinha sem pressa e nos entregávamos ao pecado da gula, aproveitando a boa mesa acompanhada de taças cheias - até eu bebi em Montalcino, algo para ser eternizado! 





A cidade não possui um comércio amplo, mas tem supermercado, lojinhas com artigos italianos e chineses (sim, eles tomaram conta das prateleiras do mundo) e uma agência dos correios. Aproveitamos para fazer algumas comprinhas com bons preços, além de visitarmos a agência dos Correios para despachar parte das aquisições acumuladas e alguns postais. 

Não há tantos turistas estrangeiros na cidade, muitos que ocupam os hotéis são italianos. Percebemos que a maioria chega na cidade, fotografa rapidamente e parte. Então, nossas caminhadas nos permitiam a proximidade com moradores, que passeiam sem pressa, como se faz em tipicas cidades do interior. 





Apesar das acomodações serem ótimas, o wi-fi oferecido em nosso hotel tinha um sinal fraquinho, fraquinho no apartamento. Melhorava um pouco no lobby, onde adolescentes japoneses se amontoavam - ainda não falei do hotel aqui no blog, mas quando o fizer contarei como a Ná se divertia assustando as pobres japonesinhas. Precisando renovar nosso estoque de roupas limpas e cheirosas, partimos para a lavanderia quase ao lado, onde descobrimos o melhor acesso a internet da viagem. Enquanto as roupas sacolejavam nas máquinas, curtimos os prazeres da vida virtual. Nos demais dias, para enviar fotos ou arquivos, dávamos uma paradinha, usávamos a internet e seguíamos. 




Na noite de nossa chegada, como referi, teve a procissão do "Senhor Morto", dentro da tradição católica da Paixão de Cristo. Ainda no final da tarde percebemos alguns arranjos e velas sendo colocadas junto as aberturas de casas e lojas. Quando escureceu, passamos a ouvir tambores, numa tipica marcha fúnebre e saímos para acompanhar. 






Muito singela e bonita a marcha, que simbolizou as paradas da Paixão, sendo recebida por luzes das velas e acompanhada por tochas. Nos integramos ao cortejo por algumas quadras. 

A cidade não é um pólo cultural, como Siena, mas é um ótimo parador para quem percorre a Toscana e deseja visitar vinhedos, pequenos burgos e aproveitar as delicias da boa mesa - sua localização é maravilhosa. 








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