Santo Domingo: um pouco da história da República Dominicana, pela voz de um Dominicano.




A paixão declarada pelo mar, pelo sol e pelo som das ondas que quebram nas areias brancas me levaram para a República Dominicana, nesse janeiro. Nem só de belas praias e paisagens deslumbrantes é feito o simpático país, mas de muita história e de uma gente trabalhadora, alegre e que traz no rosto, quase sempre, um sorriso aberto.



Como viver um pouco desse país, conhecer um pouco mais sua gente? Indo além dos muros dos Resorts, que guardam além de muita beleza, milhares de estrangeiros. Queria conhecer o gingado daquele povo, ver além daqueles trabalhadores em seus uniformes impecáveis. Queria as cores e sons da terra e fui procurá-los em Santo Domingo.



A Capital dista mais de duzentos quilômetros da região de Punta Cana Bávaro, onde estávamos hospedadas. Contratamos um city tour, um passeio de um dia, tempo insuficiente para conclusões, mas suficiente para conferir parte do que havia lido sobre o país. Saímos às 6 e retornamos às 19 horas, com diversas paradas pelos caminhos. O custo? U$ 89, por pessoa - incluído ingressos, trenzinho na cidade histórica e almoço. 



O ponto crucial para que o passeio tenha sido proveitoso foi o guia Matias - o cara fez seu trabalho, deu nuances da história do país, da fase atual do desenvolvimento, sobre Santo Domingo e La Romana e, ao final, se disponibilizou para responder todas as perguntas sobre o povo e o país, dizendo que seria uma forma de aproveitarmos o tempo de deslocamento. E foram muitas perguntas e maravilhosas respostas. Então, as informações lançadas nesse post foram colhidas da voz de um Dominicano. 



Os questionamentos foram sobre economia, politica, desenvolvimento social, remuneração, assistência social, previdência, etc, etc e talz. Além de responder as perguntas que brotavam de todos os pontos do ônibus, em todas as línguas, ele aproveitou para tentar entender o contra-ponto, especialmente em relação ao Brasil. Se percebe, regra geral, uma curiosidade e um encantamento dos locais com nosso país. 



Matias esclareceu que o salário minimo é de U$ 230, que a média salarial é de U$ 450 e, com muito orgulho, que o salário de um professor é de U$ 800. Ainda, que os funcionários dos resorts são os que possuem a menor média salarial, mas que os empregos são disputados em vista da segurança e benefícios oferecidos. Questionado acerca dos índices de desemprego, desandou a falar e justificar: segundo o Governo gira em 18%, mas que os cidadãos consideram que ele seja "inferior", pois não considera os trabalhadores autônomos - se percebe um orgulho profundo da atividade profissional, seja qual for, sustentar a família. É um país em construção, entusiasmado com a democracia, com a liberdade, que se orgulha de perceber seus impostos sendo revertidos em obras, em calçamento, estradas, saneamento. Não há seguro social - não há seguro desemprego, salário família, bolsa família. Não há previdência. Para momentos de desespero, apenas uma pensão mensal alcançada pelo governo, de U$ 20. Questionado acerca da existência de auxilio do governo, por filho do casal - ao estilo salário familia/bolsa familia, teve dúvidas, perguntou do que se tratava, como funcionava e ao final respondeu: não, aqui cada casal cria seus filhos e se não pode criá-los, não os tem. Um visão simplista, talvez pela ignorância acerca das verdadeiras obrigações de um governo para com seu povo, da repartição de riquezas e etc, mas que demonstra a cultura do não assistencialismo também, tão arraigada aos nossos costumes.

Pelo que disse, a nova geração tem muita preocupação com ascender, com absorver conhecimento, nível de escolaridade – há 42 faculdades no país. Valorizam o estudo de línguas, visando o turismo – nosso guia fala seis idiomas, além de estar estudando português e mandarim (segundo ele, tem que estar preparado para os novos tempos).

A primeira parada da viagem foi na cidade de La Romana. Saindo da área dos resorts já é possível perceber o estilo de vida do povo, a simplicidade das casas e a estrutura aparentemente precária do entorno. A cidade possui uma importância estratégica, pois além de contar com as maiores escolas de Basebol do país, uma grande fábrica de charutos, é onde está o Casa de Campo – o condomínio dos milionários. Artistas como Madonna e Júlio Iglesias possuem ou possuíram casas no local. Por estar localizada exatamente entre os dois aeroportos internacionais, está ganhando um heliporto gigantesco, com estrada asfaltada privativa, que levará até o condomínio, evitando a exposição das celebridades aos cliques de paparazzos. Junto com os milionários chegaram os campos de golfe e a soma de toda a estrutura disponibilizada para eles na região gera muitos empregos.

Na cidade há grandes lojas de artesanato, que vendem para turistas toda a sorte de lembrancinhas da terra. Além desse comércio, fomos informados que aos sábados e domingos há tradição de grandes brechós, onde se vende e troca de tudo um pouco. Na parte artesanal muita madeira e belas telas. 




Há muita cor na vida do Dominicano. 



Nossa próxima parada seria Santo Domingo e já, bem antes da Capital, a paisagem mudou. 

Na cidade de Boca Chica começamos a apreciar a vista do mar do Caribe, com seus coqueiros na orla. É para a cidade que a população de Santo Domingo se desloca para aproveitar as praias, mas a avistamos apenas na passagem.



Na chegada a Santo Domingo muitas informações, tanto históricas como acerca do momento de desenvolvimento atual. Já avistávamos uma cidade semelhante às que estamos habituados, com bairros, belas construções, portos, etc.



O que ver em Santo Domingo? Primeiramente, o Monumento ao Descobrimento das Américas – Farol Cristóvão Colombo. A explicação sobre a obra arquitetônica e seus sentidos foi, de longe, bem melhor do que a visão do monumento em si. O projeto começou a ser desenvolvido em 1928, sendo que a construção lenta foi finalmente interrompida em 1940, pois os demais países das Américas deixaram de contribuir financeiramente. O país retomou, as suas expensas, a construção, a tempo de inaugurá-lo quando das comemorações dos 500 anos do Descobrimento, sob as bênçãos do Papa João Paulo II. Em forma de cruz com 230 metros de comprimento, sobre a qual estão instaladas 157 luzes que mostram a formação das Américas. No interior, um museu – a visitação não estava prevista em nosso tour (o problema de viajar empacotado), além da tumba com os supostos restos mortais do Descobridor. Confesso que achei essa visitinha dispensável.



A segunda parada, a mais importante e desejada: Cidade Histórica. 





Santo Domingo foi fundada em 1496 pelo irmão de Cristóvão, Bartolomeu Colombo, sendo o primeiro assentamento urbano e a primeira sede de um governo europeu nas Américas. Se iniciava a exploração das Terras do Novo Mundo.  



Junto ao Rio Ozama (das águas profundas) se encontra a principal porta da Cidade Antiga, onde está a casa de Diogo Colombo. Diogo, filho de Cristóvão, se estabeleceu junto ao rio, numa casa espaçosa, com 52 dormitórios e uma excelente abertura para o rio e para a cidade que se formava. Um lugar estratégico do ponto de vista da defesa – junto ao rio e para controle social, com a vila se formando aos seus pés.

A igrejinha ao longe é a última representante da época da fundação da cidade. 



O desenho inicial da cidade teve por base uma tela, onde estava retratada a cidade de Toledo. A Santo Domingo inicial era uma réplica da cidade espanhola.


Atualmente a casa conta apenas com parte de sua metragem original, sendo que dos cinquenta e dois dormitórios restam apenas dois, mas é uma visita gostosa de ser feita, cheia de pequenas curiosidades.



Logo na entrada um hábito curioso. Sobre a porta de entrada, já no lado de dentro da residência, 21 gárgulas, entalhadas em madeira, para espantar os maus espíritos. Em todas as peças, onde hoje temos os interruptores de energia elétrica, há uma gárgula onde era dependurada a lamparina que iluminaria o ambiente durante a noite.




Provavelmente em decorrência da influência arquitetônica espanhola, as aberturas são largas, amplas e se abrem livres para o rio e a cidade, trazendo para o interior da casa de pedras a luz natural do dia, o sol e arejando os ambientes. Ao contrário das construções com influências portuguesas, tão comuns em nosso país, onde temos pé direito excessivo em relação a metragem das aberturas, há um equilíbrio das formas.



Outra curiosidade é a existência de uma sala de refeições onde “serviçais” eram encarregados de provarem todos os alimentos que seriam levados à mesa dos nobres, com quarenta e cinco minutos de antecedência, evitando que tentativas de envenenamento fossem bem sucedidas.



Em todos os ambientes há móveis e louças da época, uma visita rápida e gostosa de ser feita.



Saindo dali fomos passear de trenzinho, conhecendo um pouco das ruas e edificações da cidade histórica. Confesso que no sol de meio-dia foi bem agradável o passeio motorizado. Há muitas obras sendo feitas pelas ruas, redes de esgoto, calçamento e reforma de edificações. Fora isso, alguns prédios históricos bem conservados e sendo usados por repartições públicas ou consulares.



As edificações usadas para residência das famílias ou pequenos comércios são simples, bastante danificadas pela ação do tempo. Vi costureiras e pequenos bares, sendo quem esses não passavam de um balcão com alguns salgados e sucos, em peças que não medem mais do que 2x2. Se percebe que tudo que é destinado ao povo que ali transita ou reside é bastante simples, ao contrário dos cafés e restaurantes destinados aos turistas e também existentes nas redondezas. Há, inclusive, um Hard Rock Café.



Antes de deixarmos a Cidade Antiga, uma visita a Catedral de Nuestra Señora de la Anunciación, a primeira das Américas - 1512. Não é exuberante, mas possui belas formas e algumas obras bonitas. Bom, pude fazer meus três pedidos tradicionais, feitos a cada vez que conheço um templo católico.







Uma tradição curiosa e que se manteve por séculos foi a de que, bandido ou não, todo aquele que buscasse refúgio na Igreja, após tocar na cruz, de lá não seria retirado com o emprego da força. De certa forma os representantes da igreja intermediavam a entrega do elemento, com mais segurança, à força pública. Pois bem, quando isso deixou de ser respeitado? Durante a Ditadura Militar, claro. 





Antes da parada para o almoço, não conseguimos nos livrar de mais uma visita a uma loja de lembrancinhas, afinal o guia recebe comissões, né? Aff!!!



Deixamos a Cidade Antiga e rumamos para os bairros mais modernos, rodamos bastante por um (não lembro o nome) onde os mais abastados viveram ao longo das décadas de 50-90. Hoje é um bairro classe média, eis que os mais afortunados já migraram para condomínios na zona nova da cidade. Poucas pessoas caminham pelas ruas, tranquilas e arborizadas. Há muitos carros, o trânsito é um pouco complicado, buzinas são ouvidas insistentemente e não há respeito as regras que estamos habituados.

Observamos, por onde passávamos, muitas grades em janelas. Perguntamos acerca das razões e nos explicou que são dois os principais motivos para a proliferação delas. Primeiramente, contou que na época da Ditadura era proibido ao povo a instalação de grades nas casas, tinham que permanecer vulneráveis a invasão de agentes do regime - mas que os ricos e amigos do regime tinham grades em casa, para se protegerem do povo. Com a abertura, o povo passou a instalá-las como prova da liberdade e como objeto decorativo. A segunda razão, bem menos nobre, é pela violência - pelas respostas as indagações, percebemos que a natureza da violência vivenciada na ilha é, ainda, bastante diversa da qual estamos habituados, mas existe. 




Hora do almoço – sempre tenho um pouco de receio quanto a escolha do lugar, já que não temos qualquer ingerência nesse aspecto. Surpresa? O pequeno restaurante era lindo, limpo, com atendentes gentis e uma comidinha gostosa, ao estilo goiano.





Almoçamos no El Conuco, um pequeno restaurante típico, com suas toalhas de chita multicoloridas, muitos objetos enfeitando os ambientes, além de banheiros (sim, banheiros) lindinhos.






Quase ao final da refeição, um pouco antes de deixarmos o local, um show de música e dança – muita Salsa e Merengue. Posso dizer? Não curto, mas o show foi espetacular, com dançarinos primorosos, animadíssimo, uma festa.

Rodamos mais um pouco pela cidade, recebendo informações sobre obras, sobre a importância e capacidade dos portos, antes de visitarmos o bairro Chinês – segundo o guia, os chineses tomaram conta de uma parte da cidade e estabeleceram o que eles tem como o melhor comércio da cidade. Não posso chamar de visita, mas avistei o bairro!


Hora de regressar, não sem antes fazermos mais uma paradinha para compras em La Romana. Quanto ao artesanato local, digo que curti as esculturas em madeira e algumas telas, coisas bem pontuais. No resto, muita bugiganga.



Apesar de empacotadas, coisa que não curto, o passeio foi gostoso e bastante esclarecedor. Para quem curte ver além dos muros, interagir com a população local em seu habitat, conhecer um pouco da história e da arquitetura do lugar, o passeio pelas ruas de Santo Domingo é espetacular. 

Uma cidade com uma beleza simples! 







3 comentários

  1. Estava na torcida para que vocês fossem a SDO!!!! E juro que não imaginava que um curto passeio empacotado fosse render tanta história :)
    Parabéns!
    bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu desejava tanto conhecer Santo Domingo que foi a primeira providência quando cheguei, reservar o city tour. Dei sorte, acabou sendo um passeio empacotada cheio de histórias, nuances e divertimento, foi muito gostoso. Ah, as histórias!!! Tenho tantas outras para contar sobre esse dia que rende mais um super post, certo! Adorei suas dicas, querida. BjO!!

      Excluir
  2. Finalmente li!!! Que bom que o guia foi excelente e vocês puderam extrair tanto dele.
    Mais um lugar que entra na minha mega lista de conhecer. Acho que talvez eu tentasse dormir em SDO.
    Quem sabe um dia!!!

    ResponderExcluir

Para o Topo