Uma estrada, uma placa e uma surpresa: Buonconvento!





Já contei que meus roteiros são abertos? Isso significa que sei as principais cidades, os meios de transporte que serão utilizados e a hospedagem. Sou muito preocupada com organização: horários, passagens, reserva de veículo e reservas hoteleiras - como digo, não acho que seja legal "dormir na praça". E de resto? Apenas algumas anotações sobre atrações, que nem sempre são visitadas, mesmo quando são consideradas "imperdíveis". Quando a tudo isso se soma um automóvel, daí que não tenho roteiro, mesmo. 


Em nossas andanças pela Itália, boa parte do percurso foi feito de carro, o que nos deu liberdade para irmos rodando, parando, fotografando, rodando mais um pouco, desviando do caminho aqui, ali, acolá. Uma delicia. Além de estradas tranquilas e lindas, as distâncias são ínfimas, especialmente para quem sempre rodou muito. E nessa vibe as surpresas foram se multiplicando.



Digo surpresas, pois de algumas cidades sequer havia ouvido falar e outras apenas tinha visto o nome no mapa. Mas fomos parando em todas que não significassem grandes distâncias a serem percorridas fora da rota traçada, para não perdermos o prazer em aproveitar as cidades previamente escolhidas. Então, posso dizer, que sair comigo significa saber o ponto de partida e de chegada, sabendo que entre eles as paradas podem se multiplicar, importando em desvios, numa esticadinha de pernas aqui, outra lá, sem olhar para o relógio. Bom, assim foi que chegamos a Buonconvento.




Estávamos em deslocamento e passamos por uma pequena cidade, que nos pareceu simpática, bem na hora do almoço. Vimos algumas pessoas se deslocando rapidamente, acho que não éramos as únicas com fome, afinal. De resto, só tranquilidade. Resolvemos procurar um restaurante para almoçarmos e onde aproveitaríamos para descansar um pouco, mas no centro daquela pequena cidade tinha um presentão nos esperando.



Ao contrário das demais cidades muradas do caminho, que estão em regiões elevadas, que proporcionavam uma visão ampla do entorno, em Buoconvento a cidade original, murada, está numa planície. Hoje rodeada por construções, decorrentes da expansão da comunidade, mas com a área histórica absolutamente preservada. Então, só a avistamos quando estávamos a procura do restaurante. Preciso dizer que a fome desapareceu? Pulamos do carro, felizes e já fomos entrando para conhecê-la. É pequenininha, mas absolutamente cercada, com portões de acesso, apenas. 


Como era horário de almoço, avistamos algumas pessoas circulando, a maioria com pressa, enquanto sentíamos o perfume das refeições que saia pelas janelas. Começamos a percorrer os caminhos, saímos e entramos, percorremos o entorno. 

Não sabíamos nada sobre aquela comunidade, não haviam indicações, fora algumas placas. 



Estava acontecendo uma feira de móveis antigos, com muitas quinquilharias simpáticas - ainda que tinha um oceano separando minha casa daqueles "tão necessários" artigos. 




A tranquilidade era tamanha que os locais com móveis em exposição estavam abertos, mas não havia ninguém por lá para nos receber - quase uma cidade fantasma. Preciso dizer, que se dependesse apenas de minha vontade, o segundo lustre da esquerda para a direita e o armário verde já estariam habitando a capital dos gaúchos? Ah, e tinha uma mesinha de cabeceira, que não aparece na imagem, que era meu número, também. 


Por algum tempo andamos na mais absoluta privacidade, até que pequenos grupos e casais começaram a surgir, em direção as mesas de dois ou três restaurantes. Como já havíamos percorrido todo o perímetro, fotografado muitos e muitos detalhes, resolvemos também sucumbir ao pecado da gula. Sem qualquer indicação, adentramos no que nos pareceu mais simpático e tivemos a liberdade, absoluta, de escolher uma mesa - afinal, éramos só nós no interior e um casal na parte exterior. Fomos atendidas por uma senhorinha simpática, que foi logo nos enchendo de sugestões. Para quem nos conhece é fácil determinar de quem é cada prato e qual foi, irmãmente, partilhado por ambas. 





Depois de um dia de muitos quilômetros rodados, já confortavelmente instalada no hotel, resolvi pesquisar um pouco sobre a pequena Buonconvento, eleita por mim a melhor surpresa do dia. E não é que não há quase nada sobre ela no Dr. Google? Bom, isso só estimulou a curiosidade, claro. Já de volta, separando fotografias, novamente me encontrei com o lugar de meu encanto e não resisti, fui pesquisar. Só então consegui informações que iam além do nome dos Palazzo Podestarile, Comunale, Grisaldi del Taja (XVII) e Borghesi (XIV). 





Povoado, construído em terracota, que tem como menção histórica mais antiga uma passagem do Rei francês Filipe Augusto em 1.191, foi murado no século XIV, se transformou em paragem de peregrinos medievais da Via Francigena (via de peregrinação que liga Canterbury na Inglaterra a Roma, passando pela França e Suiça) e, quando da II Guerra Mundial, restou invadido pelos alemães. Com essas informações a pequena me pareceu ainda mais bela. 




O Palazzo Podestarile é imponente. Possui uma Torre retangular, dois arcos góticos e vinte e cinco brasões em pedra incrustados em sua fachada, representando antigas famílias influentes. 



As muralhas possuíam, originalmente, apenas duas portas de acesso: a Porta Senese e a Porta Romana. Quanto a Porta Senese, que fica próximo de onde tomamos um gelato de sobremesa, hoje é apenas uma passagem. A Porta Romana, por sua vez, ainda possui as folhas de madeira pesada, restaurada após ser parcialmente destruída pelos alemães em retirada, em 1944. 







A Igreja de São Pedro e São Paulo (ao que parece datada de 1.103 - se isso não representar apenas um marco de reforma ou ampliação, a informação parece não ser precisa) possui como momento histórico destacado a morte, em seu interior, do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico Henrique VII, no ano de 1.313. Sua fachada, embora discreta, tem a cor forte da terracota. O interior é singelo. 






Temos dois iguais a esse em nossa casa de campo, coisas dos avós. Já disse que sou uma apaixonada por quinquilharias, não? Sempre acho uma utilidade para as velharias e, quando não encontro nenhuma, encosto pelos cantos e deixo lá até encontrar. Todas devem possuir alguma utilidade, não é mesmo? 


Ingressamos por uma entrada lateral, junto ao simpático jardim.



6 comentários

  1. Paula, fiquei encantada com o lugar. Fica perto de qual cidade? Também adoro quinquilharias, e antiguidades então uma perdição pra mim!

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    1. Fica no caminho entre Siena e Montalcino, na verdade quase chegando em Montalcino, que era nosso destino naquele dia. BjO!!

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  2. Grande descoberta, Paula. Deu uma enorme vontade de voltar à Toscana ☺

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    1. Eu também senti vontade, não deu para parar em todos os cantinhos que desejávamos, alguns importariam em grandes desvios. Voltaremos.... BjO!!

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  3. Sempre bom ler seus relatos em forma quase de "causos" um tom leve e bem humorado.

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