Cores e Rendas, uma Ilha de Emoções: Burano.




Já no meio de uma ventosa tarde de primavera, ganhamos as águas, navegamos, navegamos, até avistarmos um simpático conjunto de casas muito coloridas, uma ilha de cores: Burano. 


Havíamos deixado Veneza pela manhã para visitarmos Murano - meu maior desejo naquele roteiro e, se desse tempo, darmos uma esticadinha até Burano. Programação encaixadinha, depois do almoço, uma voltinha de Vaporetto e desembarcamos em Burano. Chegamos quando um vento frio começava a soprar por aqueles recantos e canais, então apressamos o passo e ganhamos as ruas daquela comunidade, tão cheia de belezas para os olhos das turistas. 


Os casarões a beira d'água são um convite em cores para o passeio, já somos recebidos com cores quentes. Câmera em mãos, hora de desbravar os caminhos. Já na chegada nos deparamos com um conjunto de lojas expondo, além de belas telas e aquarelas, toda a graça de uma tradição centenária: as rendas artesanais, a arte do merletto. 





Não me furtei a uma análise das rendas expostas, dos detalhes tão sui generis daquela arte, do simbolismo por detrás daqueles desenhos. Os trabalhos são de uma delicadeza impressionante, dentro de uma tradição que remonta ao século XVI. O trabalho das artesãs buranelas eram conhecidos pela nobreza e as rendas encomendadas por princesas e rainhas para adornarem seus enxovais. O feito mais conhecido, entretanto, talvez seja o colar utilizado por Luiz XIV em sua coroação, uma peça que levou mais de dois anos para ser confeccionada. Hoje, entretanto, a maioria dos trabalhos expostos não são mais tão artesanais ou dentro da estrita tradição, mas há peças mais caras que podem ser observadas e que respeitam a história do lugar - tenha em mente: as baratinhas, vendidas para os afoitos turistas, não são a verdadeira arte do merletto, mas são lindas. 



Na localidade ainda existe a "escola de rendas", que mantém a autenticidade da arte do merletto na região. A Escola está estabelecida no Palazzo del Podestà.

Além das rendas, outra forte tradição é a confecção de máscaras venezianas. Ali foi o lugar onde tivemos a oportunidade de vermos as verdadeiras venezianas, pois a pequena comunidade ainda não foi invadida pela produção "made in China", como se vê pelas ruas de Veneza. 


Depois de ter passado horas em Murano a namorar cristais, em Burano desejava muito mais caminhar, fotografar, curtir um pouco a colorida localidade, antes de encerrarmos o dia e aproveitarmos a noite veneziana. 



Fomos caminhando na direção do fluxo, dando pequenas paradas nas travessas para vermos como vivem os moradores fora do circuito turístico. Chegamos finalmente numa espécie de centro do comércio local, com restaurantes, muitas lojas, confeitarias e um vai-e-vem infindável de pessoas. Dali, após lanchinhos e um gelato, retornamos ao ancoradouro. 



Percebemos rapidamente que há uma tradição em doces na ilha, pois são diversas as confeitarias e todas oferecem Bussola e o biscoito "essi", sucessos por lá - todos entram e saem com saquinhos, o lanchinho dos turistas. Experimentamos, são gostosinhos. 



As rendas são a arte do lugar, mas o casario colorido é que dá vida e beleza aquela comunidade. Reza a tradição que os pescadores pintavam as casas de cores fortes, vivas, distintas uns dos outros, para que pudessem, ao retornar da pesca, localizar a residência em meio a forte neblina. 


O hábito de colorir as casas rapidamente me fez lembrar de Olinda, onde a tradição das casas serem pintadas de cores diferentes umas das outras, também possui como motivação o critério identificação - só que no caso da pequena cidade pernambucana, as cores faziam as vezes dos números. E como fica linda uma cidade colorida, não? 




Um lugar tão bucólico não passaria incólume ao olhar dos artistas, se transformando num refúgio, ainda que sazonal, para muitos deles. Assim, nas primeiras décadas do século XX nasce a "Escola de Burano", que teve entre os principais artistas Gino Rossi e Dalla Zorza. 


E a Torre da Igreja? Torta! Depende muito do ângulo, mas não é difícil perceber que ela possui uma inclinação. Entrei para fazer meus três tradicionais pedidos, claro. 








A pequena Burano é, para mim, mais bonita e aconchegante que Murano. As cores quentes dão um aspecto convidativo ao local, de limpeza, que não encontramos em Murano. Agora, essa demanda menos tempo para a visitação, tem um comércio mais singelo, menos canais e vielas. 



Não permanecemos por longo período na ilha, mas tentamos aproveitar ao máximo o tempo que lá ficamos. Acredito que não se precise de um dia para conhecer a ilha e tudo o que possa oferecer, mas teria sido delicioso permanecermos por mais uma hora por lá. Mas o frio começava a incomodar, o vento gelado dava ares de autoritário e não mais respeitava a roupa leve que usávamos e aquela se tornou uma boa hora para voltarmos para o hotel. E a viagem de volta foi longa, bem mais de uma hora até desembarcarmos na Piazza San Marco. 


* observação imagino que desnecessária, mas válida em vista das cores fortes das fotos: jamais faço uso de filtros nas imagens - todas as cores estão ao natural, somente sob o efeito das luzes de um final de tarde. 

4 comentários

  1. Que legal Paula. Adorei viajar por "Burano" aqui no Post. As fotos tão incríveis..O colorido encanta. bjs..:)

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    1. Show querido, é muito bom partilhar com os amigos experiências tão encantadoras! BjO!!

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  2. Que gracinha de lugar. Ainda não conheço e agora fiquei com mais vontade ainda de conhecer!

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    1. Curti mais do que Murano, embora lá tivesse bem mais quinquilharias loucas para atravessar o oceano, claro!! Sei que entendes!! BjO!

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