Trancoso: da literatura à vida mundana.


A Bahia foi eleita nosso destino de verão, mas um destino temático, cheio de simbolismos. Foi mais do que rodar "Pelos Caminhos de Jorge", foi também curtir um pouco de sua religiosidade, do sol, de suas praias. Foi um misto, um roteiro apenas com os destinos traçados, sem limites, para ser vivido de acordo com o clima, com o momento. 



O clima de curtição se instalou quando chegamos a Trancoso, momento a partir do qual rasgamos o roteiro e só sabíamos o dia e hora do voo de retorno ao Sul. Era o momento de conversar com as ondas, ficar ao sol, curtir um banho de mar, sem relógio. Saímos das páginas de Jorge e caímos na Vida, fomos em busca de prazeres mundanos, de preguiça. 


O Quadrado nos proporcionou vida de interior, de sentar e ver o Mundo passar. De se perder das horas conversando, de andar, de comer uma pipoca, uma tapioca, tomar muitos sorvetes. E como é bom andar sem pressa e sem rumo... 




E a Arte daquela Terra? Chega pelas mãos dos índios, ou dos muitos artistas que ali se estabeleceram, com suas telas, esculturas, muita arte em madeira e alguma coisa em cerâmica e vidro. 







Se as praias não nos causaram grande impacto, o conjunto representado pelo Quadrado foi um encontro, uma nova amizade, paixão. Foi inspirador. 




Não sou a única a considerá-lo inspirador. Originário de um agrupamento Jesuíta, onde os padres ofereceram aos índios que desejassem a conversão terrenos próximos a Igreja para moradia, virou aldeia de pescadores, sendo descoberto posteriormente pelos hippies e hoje é um delicioso pólo turístico. Além dos artistas que possuem galerias nas casas coloridas no entorno do gramado, dizem que Oscar Niemeyer também teve no quadrado forte inspiração para o desenho da Esplanada em Brasilia, "vá saber" se é verdade. Mas é sempre uma curiosidade: o Poder ao fundo (Igreja), os Ministérios nas porções leste e oeste (agrupamentos de casas) e a Esplanada ao centro (o gramado). 



Acredito que Trancoso não tenha o mesmo encanto para a centenas de pessoas que invadem seus caminhos ao longo dos dias, trazidos em vans turísticas. É preciso ficar mais intimo, curtir do Sol a Lua, viver aquele espaço. 



Optamos pela hospedagem no Quadrado, o que nos proporcionava sair e retornar, dar mais uma voltinha, ir em busca de mais um sorvete. Caminhar, conversar e sonhar. A escolha do simpático Hotel da Praça colaborou muito para o encanto, construído especialmente nas noites quentes de janeiro.  

A noite do Quadrado é absolutamente iluminada, pontual. 






Entramos no clima, participamos de uma Missa ao final da tarde, confraternizamos com o Mundo (sim, parte do Mundo estava ali), ouvimos o Sermão mais simples e direto na voz de um Frei simpaticão, nos encantamos com a Ave Maria na voz de Elba Ramalho - tímida, simples e encantadora, andando serena pelos caminhos do Quadrado com seu pequeno chocalho preso ao tornozelo.



Há sempre uma curiosidade a ser descoberta... 


Se as noites foram na animação do Quadrado, os dias foram de sol, mar e espreguiçadeiras.  Era o momento de curtir as ondas sem hora, de ver o movimento, de ficar de molho até os dedos ficarem enrugadinhos como quando éramos crianças. Apesar de termos perambulado entre as praias (só um pouquinho, pois estávamos preguiçosas), optamos por montar acampamento na Barraca Casa Timbó, em Coqueiros. Qual nosso critério de escolha? Distância minima e comodidade máxima. 





Como a maioria das barracas de praia exigem o pagamento prévio de consumação minima, não há muita muvuca. Chegamos na Timbó logo após cruzarmos o mangue, à direita. Com áreas externa/interna mega bem cuidadas, ótimo atendimento, ducha, sanitários e uma cozinha primorosa, e por isso a barraca já teria recebido nossa aprovação. Mas, um tempinho depois de chegarmos o som foi ligado e isso é sempre um risco, pois não sou muito fã de passar o dia a mercê do gosto musical alheio. E para minha surpresa? Jazz, Beatles e, no quesito nacional, Legião Urbana - com volume moderado e agradável. Me ganhou. E para onde retornei todos os dias? 



A região de Trancoso não foi explorada, não era mais momento para isso. Assim, acredito, que retornarei uma hora dessas para perambular por aquelas estradas, ir ao encontro dos recantos paradisíacos tão aclamados. Por hora guardarei os sabores e perfumes do capim-limão, que me guiarão de volta aquele Quadrado colorido, tão cheio de arte, tão cheio de serenidade. 

4 comentários

  1. Que maravilha a escolha musical das pessoas! Adorei, tá na minha listinha! :)

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    1. Quando chegamos estavam sem energia elétrica e eu ainda pensei: o que será quando retornar e ligarem o som?! Depois a caixa de som começou a chiar e eu só aguardando o Axé no último volume, quando ligam Jazz - açúcar para meus ouvidos!!! Uma delicia, Jazz acompanhado pelo som das águas... Haha!! Bjo Tati!

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  2. Oi. Passei férias em Trancoso durante anos, uma paixão. Sempre voltarei. Muito bom o texto. Bjoss

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  3. Oi, Paula. Te achei via Google+, depois que tu seguisse o meu blog por lá (Entre Embarques). Gente, gostei muito dos textos e do lirismo. ;) Inclusive, vim comentar justamente no da Bahia porque depois de ler tanta coisa bonita fiquei cheia de saudades. Beijos!

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