Tantas questões politicas, filosóficas, humanitárias... 

Posso contar? O que primeiro jogou Cuba na minha vida foram os carros, antigos, fumacentos e muito coloridos. 



Quando criança assistia programas na tv, acompanhava discussões sobre os "comunistas", guerrilheiros, "comedores de criancinhas" e só fazia prestar atenção naqueles carros de bancos largos, em tantas cores. 



Sou apaixonada por antiguidades, por história e, através das cores daqueles possantes, permiti que Cuba entrasse na minha vida. 






Chegamos em Brasilia cedinho, estávamos lá para o #EncontroBSB de blogueiros de viagem. Antes de tudo, trabalhamos um pouco e, ainda, sobrou um tantinho da manhã. O que fazer? Pensei em revisitar o lindo Memorial JK, onde retorno sempre e sempre e ele está sempre igual, claro.

Papeando nas redes com a Camila, do Colecionando Imãs, ela informou que tinha uma exposição maneira no Museu dos Correios, que estava numa distância razoável do hotel, nada de atropelos. Lá fomos conferir Rembrandt. 


Sabíamos onde ficava, mas jamais tínhamos estado no pequeno e simpático museu. Estacionamos, caminhamos pouco mais de uma quadra e, ao chegar, fomos recebidas por dois simpáticos atendentes. Sorridentes, foram fazendo perguntas, dando toda a sorte de informações e desejando boas-vindas. Gostoso, né? Pronto, a decisão de que voltaremos muitas vezes lá foi tomada ali, mesmo antes de conhecermos a estrutura e visitarmos as exposições. 



Havana conta com alguns museus, mas nem todos me pareceram legais. Possuía uma lista para visitar, mas fui cortando, cortando e, dos que visitei, gostei de apenas dois, muito diferentes entre si.


Um deles foi o Museu de Belas Artes, dividido entre dois prédios, um dedicado a Arte Universal - Palácio do Centro Asturiano e, outro, apenas para a Arte Cubana - Palácio de Belas Artes.






Oba!! Teríamos Encontro de Blogueiros Viajantes, em Brasília. Bastou a noticia para que comprássemos as passagens, sem saber quem lá estaria e sem perguntar a programação, nada, ainda na mesa do bar onde curtíamos o happy hour. O prazer estava em "encontrar":

“Na rua, na chuva, na fazenda.
Ou numa casinha de sapê"!*

O primeiro dia do #EncontroBSB seria o momento de reencontrar amigos queridos e, também, de abraçar pela primeira vez alguns que, até então, sempre estiveram do lado de lá da tela. Só isso já faria os dias serem especiais, mas havia muito mais.

Tendo passado dez dias em Cuba, durante os quais estive praticamente desconectada, não acompanhei a abertura da programação. Antes de viajar conversei com a Camilla, quando do anúncio do primeiro passeio sugerido e disse que não participaríamos do circuito de bike, mas que gostaríamos de estar nos demais, quaisquer que fossem.  Ela fez a gentileza de confirmar nossa presença e, no horário marcado daquela sexta-feira, estávamos no píer do Coco Bambu.





Lago Sunset Experience, o passeio na simpática Escuna baiana Maria Maria, para ver a cidade a partir do Lago Paranoá (enseada de mar, em Tupi), inverter a ordem, sacolejar nas marolinhas das águas e vislumbrar os tons do cerrado. Curtir os amigos. 




Só uma contadora de histórias...

Faço anotações em viagens, eventualmente, mas jamais o fiz em forma de diário. Primeira vez, talvez última. 

Decidi lançar aqui os capítulos, como os escrevi, sem correções, sem alterações e muito pela interferência dos amigos. Uns curtem, outros se sentem feridos, mas é da vida. 

Tenho muitos capítulos, escritos em Havana e em Varadero, mas além desse farei apenas a postagem de mais um. Depois? Só as belezas das ruas Cubanas, a alegria das cores, a mescla de carros e o sorriso das pessoas, que jamais esquecerei.

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"Cada hora de aislamiento que sufre el hermano pueblo
de Cuba, constituyen 60 minutos de 
verguenza hemisférica"

Omar Torrijos

Reunion Del Consejo de Seguridad de La ONU.

Panamá, 15 de marzo de 1973



Cuba é intrigante e surpreendente, mexeu comigo como nenhum outro lugar no mundo, jogou aos meus olhos as diversas facetas de um regime que me fora exposto, ao longo das décadas, por ângulos diversos e antagônicos. No momento em que entrei no voo Panamá/Havana ela começou a se desnudar, sem pudores, ora gentil e sedutora, ora com a violência da liberdade degradada.

Para mim Cuba foi La Habana, a cidade de todas as tribos, de todos os tempos, a rainha do que passei a chamar de universo paralelo.

Nos primeiros dias cada informação que recebia, cada olhar ao longe usado como resposta, cada surpresa ao dobrar de uma esquina fazia com que lembrasse de uma série antiga e que assistia na infância (que já era antiga quando a assistia), O Elo Perdido!

Andei por aquelas ruas como quem volta no tempo, como quem é atirado numa época que não mais existe, que não lhe pertence, mas que de uma forma única recebe informações do futuro - sim, todos possuem celulares e alguns acessam a internet. Enquanto tinha os primeiros contatos com aquele país, tão peculiar, lembrava do lindo tema musical de "Em algum lugar do passado".

Chegamos exaustas, num sábado à tarde. Depois de um pequeno tour por Vedado, um bairro moderno, uma refeição num café contemporâneo e frequentado por estrangeiros e uma caminhada por entre os locais, sucumbimos. Acordamos na manhã seguinte, com novos aromas, cores e sons surpreendentes - era chegada a hora de ganhar as ruas e descobrir o que aquelas esquinas tinham para nos sussurrar.





Brasília é uma de minhas paixões, círculo por ela com uma curiosidade ímpar, curto o ar livre que corre por suas avenidas e as cores do cerrado.


Quando a Camilla Kafino, do Ensaios de Viagem, comentou com a Camila Navarro, do Viaggiando, sobre um ainda embrionário encontro no centro-oeste, saltei. Queria estar lá. E lá estive, no #EncontroBSB.


Dias maravilhosos, para confraternizar com queridos amigos e para viver, mais intensamente, a cidade que tanto me encanta.


Cuba é intrigante, mexe com o emocional, se impõe com seus mistérios, sorrisos de canto, um certo constrangimento e com seu pacote de necessidades.

Todo o orgulho de possuir está no simples, naquilo que para nós é prosaico. Não tem como não perceber que precisamos de bem menos do que almejamos. No aeroporto muitas pessoas chegam abraçadas em enormes embalagens de fraldas descartáveis, pois aqui nem sempre ter dinheiro significa poder. Não vimos fraldas e absorventes nos mercados privados, há algumas poucas embalagens de shampoo e cremes. No mercado privado junto ao Habana Libre há mais possibilidades, inclusive coca-cola de 2litros (não vi em outro lugar).

Há um constrangimento no ar, pois a necessidade impõe um comportamento menos reto. Culturalmente não aceitam o que chamamos de "jeitinho brasileiro", mas ele é o que há, em todas as relações.




Publiquei trechos de meu Diário de Viagens no facebook, ainda durante nossa estada em Cuba. Não pretendia trazê-los para o Mochilinha, mas foram muitos os pedidos dos amigos para que eternizasse o momento por aqui e, assim, vou fazer. Resolvi que não editarei, não quero alterar a essência do momento em que foram escritos.

Ai vai o primeiro!

Para Flora e Lilian, pelo estimulo de trazer para esse espaço os textos. 

Para Fabiola, que me inspirou a voar para Cuba. Uma amiga querida. 

Para Naiá, minha companheira de descobertas. 

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Meu desejo de conhecer Cuba sempre teve muitas facetas, indo do turístico ao humano, mas pude concluir que tudo que se diga é pouco para explicar uma vida em paralelo. Conversamos com algumas pessoas, inclusive que tiveram oportunidade de trabalhar em outros países, mas que tem dificuldade de entender os sentidos das expressões liberdade e democracia.

Sabe aquele orgulho de pertencer, que gostamos de ter, tipo quando fechávamos os olhos para a violência para dizer que tínhamos o melhor futebol do mundo? Eles estão condicionados a verem na educação e saúde as joias de Cuba. Entretanto, há tantas virgulas e tanto entre elas.

Há mais que pobreza, existe uma miséria que não discrimina. Mesmo quem trabalha com o turismo vive em lugares insalubres. Já não há tantos médicos para o atendimento da população, pois estão em "missões" por países sulamericanos e africanos. Falam em fome, embora as frutas sejam baratas e deliciosas - não lembrava o quanto saborosa podia ser uma banana prata ou uma goiaba vermelha. Com tanto mar não se avistam barcos, só pescadores de varas junto ao Malecón.


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