Um dia estava navegando nas redes, procurando novidades, postagens dos amigos quando encontrei um post da Alexandra, no Café Viagem. Antes mesmo de ler, caí de amores pela foto de um fogão retrô, semelhante ao que tínhamos em casa na minha infância - aqueles com abinhas laterais. Devorei o texto e joguei a informação no bloco de notas. Depois daquele dia estive em duas oportunidades em Canela, mas não consegui conhecê-lo, até esse sábado.

Gente, paixão resume meu sentimento: Magnólia, Cine Gastrô Bar.




Sempre que nos apaixonamos na verdade escolhemos alguém para amar, que nos faça sonhar. Há lugares que são assim, terras de sonhos, repletas de cores e encantos. Gramado, na Serra Gaúcha, vive de e para encantar aos visitantes e nesse final de semana visitamos atrações que são pura magia. 

Voltamos a ser crianças no Mini Mundo de Gramado. 






Uma das figurinhas carimbadas para quem vai a Paris é a visita a Catedral de Notre Dame, uma bela construção Gótica na Praça Parvis, na Île de la Cité. 


Sempre que leio sobre ela, todas as atenções estão voltadas para seu interior, seus belos vitrais, o órgão e suas pilastras. Pensei que seria assim comigo também. Mas ao chegar, primeiramente sentei no jardim externo para descansar de uma longa caminhada e aproveitei para lançar os primeiros olhares sobre os detalhes tão bem marcados da arquitetura Gótica. Ai começou minha viagem por entre suas colunas, ogivas e esculturas. Então, não falarei do interior e de suas belezas de luz, tons e sons, mas apenas do quanto inovadora foram as técnicas aplicadas para erguer esse símbolo Gótico. 



Em viagens para cidades absurdamente turísticas tenho o hábito de comprar passes prioritários, pois além da economia, ainda fico dispensada de enfrentar as filas imensas nas principais atrações. 


Os passes costumam ser caros, o que muitas vezes faz com que o turista deixe de adquirir. Como sou uma rata de museus, bibliotecas, pinacotecas e monumentos históricos, acabam sendo economicamente interessantes. Regra geral possuem na lista de atrações vinculadas as principais do local, tornando-os quase que indispensáveis. 



O tempo passa rápido, enquanto o minuano sopra nas esquinas dessa Capital, surpreende quem dobra caminhos e vinte anos se foram desde que o vi pela última vez, sentadinho no banco da praça - pernas cruzadas, mãos apoiadas sobre a bengala e o olhar que se perdia ao longe. Dele ficou a saudade, mas também tantas letras, lembranças de seu jeito melancólico e gentil, de seus passos tímidos pelas ruas da Cidade Baixa. E há forma melhor para alegrar o coração do que um reencontro? "vinte (ver) QUINTANA", a Exposição




Para falar da Pinacoteca Ruben Berta em Porto Alegre, temos que começar por sua história, tão cheia de nuances e dificuldades, para só então chegarmos ao simpático casarão na Rua Duque de Caxias, onde está instalada. 


Começamos nossa estada na Itália por Veneza, depois passamos alguns dias em Florença e, ao partirmos em busca de encantamento pelas estradas da Toscana, fomos direto para a cidade que estava em primeiro lugar em minha listinha de cidades muradas: San Gimignano


Não sei precisar quando surgiu o encantamento pela pequena cidadela, mas aguçava meus desejos há anos e anos. Depois de dias maravilhosos em Florença, alguns problemas com a locadora de veículos nos retirou umas duas, talvez três horas do tempo que tínhamos reservado para conhecermos a primeira cidade de pedras do roteiro. A irritação com a situação referente a locação não retirou a beleza e o encantamento daquele encontro, numa agradável e ensolarada tarde de primavera. 




Muito do estilo do gaúcho está vinculado ao fato de estarmos numa zona fronteiriça, onde muitas guerras delimitaram as fronteiras do país e também proporcionaram uma miscigenação de raças e costumes (portugueses, índios e espanhóis), bem como pelo fato de termos tido levas migratórias importantes, com a chegada de centenas de famílias alemãs, italianas, polonesas, ucranianas, além de um grande número de imigrantes sírios e libaneses (nossos queridos mascates, que se espalharam pela região sul do Estado, na zona de fronteira). Tivemos um mercado de escravos fraco, mas muita proximidade com os indígenas (terra das reduções jesuíticas). Completando as ondas migratórias, ainda recebemos muitos judeus no século passado, que formaram uma colônia importante no bairro Bom Fim em Porto Alegre, além de terem se espalhado, com suas casas de comércio, pelo interior. Ao contrário do restante do país, que foi colonizado por portugueses de diversas regiões de Portugal, aqui a colonização se deu predominantemente por açorianos, o que também contribuiu para que os costumes daquele povo ficassem muito arraigados. 

Quando há festas, grandes eventos ou meras exposições acerca dos povos que colonizaram o Rio Grande, sempre há um tanto de emoção nisso. Mesmo para alguém que como eu não está vinculado diretamente a nenhum dos movimentos migratórios (sou o que por aqui chamamos de "pelo duro", descendentes de portugueses da terra), há uma proximidade, uma familiaridade muito grande. Mais do que um povo que se misturou, somos um povo que se aceitou - mesmo que espalhados por regiões razoavelmente delimitadas, nos aceitamos como parte de um todo. 


O projeto Imigrações Alemãs e sua exposição "Os Novos Brasileiros: os Alemães no Rio Grande do Sul" está em cartaz no Museu dos Direitos Humanos do Mercosul - Memorial do Rio Grande do Sul, na Praça da Alfandega em Porto Alegre e foi por ela que turistei pelo Centro Histórico de minha cidade, como contei aqui. 




No último sábado decidi turistar pelo Centro Histórico de Porto Alegre, só com minha câmera, um roteiro e o céu azul, num lindo dia de sol. 


Meu ponto de partida foi a Praça da Matriz. Uma caminhadinha até o MARGS - Museu de Artes do Rio Grande do Sul, com uma parada para fotos da Biblioteca Pública. Ainda na Praça da Alfândega me direcionei para o Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, instalado no antigo e belíssimo edifício dos antigos Correios. Pulei o Santander Cultural e fui direto para o histórico prédio da CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica, já na Rua da Praia, onde está instalado o Memorial Érico Veríssimo. Bom, depois de quatro horas de andanças e belas exposições, uma pernada ladeira acima, retornei para a Praça da Matriz, onde encerrei o roteiro com uma visita a Catedral Metropolitana. 




A Praça Marechal Deodoro - Praça da Matriz, é o centro do Poder Gaúcho. O monumento central é em homenagem a Julio de Castilhos. Em seu entorno estão os ditos três poderes: Palácio Piratini - sede do Governo Estadual, o Palácio Farroupilha - sede do Poder Legislativo e o Palácio da Justiça - sede do Poder Judiciário. 





Sou fã da Deusa Themis existente na fachada do Palácio da Justiça. Conseguem perceber que ela está de olhos abertos? Sim, aqui pretendemos que a Justiça não seja cega! 



Na fachada lateral do Palácio Farroupilha - Assembléia Legislativa, há um painel de Vasco Prado, onde reflete o sol e por onde as luzes iluminam as noites. 



Há uma brincadeira corrente que diz ser a Praça a sede dos cinco poderes estaduais, quando são acrescentadas a Catedral Metropolitana - sede do Poder Católico, bem como o Palacinho - sede do Ministério Público Estadual. 

Seguindo nessa linha, incluiria, então, o Teatro São Pedro - como sede Cultural e, talvez, o que de melhor tenha no entorno de tão importante praça. 


Me fixando no patrimônio cultural da cidade, afirmo que uma passadinha pela Praça da Matriz é indispensável para quem pretenda conhecer a capital dos gaúchos. 

Há muito de história gravada naquelas pedras portuguesas que calçam as alamedas. Foi a partir dos porões do Palácio Piratini que Leonel Brizola e sua Rádio da Legalidade garantiram a posse de Jango como Presidente da República, quando Jânio renunciou ao cargo. Lembram disso? A Campanha da Legalidade, que mobilizou os gaúchos, garantiu um restinho de Democracia, antes de vinte anos de Ditadura Militar. De uma casa vizinha partiria, em abril de 1964, o mesmo Brizola rumo ao exílio em terras uruguaias. 

Ao longo das décadas tem se fortalecido como um ponto de manifestações e comoções públicas. Em seu entorno grupos de mobilizam, choram a passagem de pessoas ilustres ou, apenas, curtem os finais de tarde sob seus ipês e jacarandás. Como esquecer centenas de professores acampados por meses e meses, tocando insistentemente suas sinetas na década de 80? E as batalhas entre Professores e a Brigada Militar, quando os trabalhadores eram corridos por cachorros e cavalos ladeira abaixo? Sim, vimos muito disso por essas ruas. Mas, mais que tudo, como esquecer do bis do espetáculo Tangos e Tragédias, com todos reunidos na praça após a saída do teatro, nas quentes noites de verão? Foram noites felizes e barulhentas (era feito um jogral após o espetáculo, com a participação de todos), por vinte e sete verões - sentirei muita saudade. 

Segui meu caminho até o MARGS, com uma paradinha na Biblioteca Pública, que estava fechada. Algumas fotos depois, fui em direção a Praça da Alfandega, aquela junto ao Guaíba e onde realizamos anualmente a Feira do Livro. 


No meu museu preferido na cidade, visitei a exposição das obras de Gilda Vogt, em várias fases. Interessante. 



Pena que meu salão predileto estava fechado para a montagem de outra exposição. Tive que me contentar com os ladrilhos da entrada, apenas. Eternamente apaixonada pelos ladrilhos e tacos de madeira que revestem os andares do museu. 


Saindo dali me direcionei para o prédio ao lado, antiga sede dos correios e que abriga o Museu dos Direitos Humanos, para a exposição que impulsionou meu passeio: "Os novos brasileiros: os Alemães no Rio Grande do Sul". 





O prédio histórico é deslumbrante. As escadas e as grades do portão de acesso são lindas - chamo o portão de porta rendada! 




Espetacular, apenas espetacular. Uma exposição singela, mas com uma narrativa maravilhosa. Havia muitos idosos no local, em sua maioria alemães ou seus descendentes, o que permitiu ainda uma interação com as histórias que iam sendo narradas a medida que viam documentos, fotografias... 





Na parte superior as portas que dão acesso as sacadas estavam fechadas, impedindo que fossem fotografadas a fachada do edifício e a praça - acho que são o melhor mirante da praça. 

Queria muito visitar o Memorial Érico Veríssimo, pois já havia tentado e estava sempre fechado. Vergonha própria: não conhecia a casa de meu mais querido romancista! 

Conhecia o prédio, do tempo que tínhamos que buscar a segunda via da conta de energia elétrica, a cada greve dos correios - informação direto da era pré-histórica. O que acham do vitral? 


Os espaços destinados ao acervo e a história de Érico são deliciosos. Visitei dois, que estavam abertos. A biblioteca é aconchegante e, além de seus livros, possui uma área para leitura. Um oásis no centro da cidade, mas que no horário do almoço de sábado estava vazio. 



Em outro andar me encantei com a contemporaneidade com que as obras estão expostas. Um misto de áudio, vídeo e iluminação perfeitas, bem ao estilo do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo. Foi gostoso reencontrar com o autor de quem li toda a obra, além de reler diversos livros. 



Já me preparava para deixar a casa quando o elevador parou no andar onde outra exposição faria eu reencontrar outra paixão, Caio Fernando Abreu. 


Numa pequena sala estavam reunidos muito de sua histórias, em documentos, livros e objetos pessoais. Organizada com simplicidade, era completada pela voz proveniente de um video que rolava no último ambiente. 

Numa prateleira, alguns de seus livros - fiquei feliz em encontrar entre eles exemplares de livros que possuo na minha estante. Sempre uma emoção rever e reler Caio - já contei que nosso escritório quase teve como sede sua antiga casa? Sabem aquela casa das fotos em que ele aparece no portão? Sim, fica aqui ao lado do escritório e seu pé de Bougainville continua florindo nas primaveras. 


Meu passeio estava redondinho, poderia ter acabado ali, mas tinha que retornar para a casa, lá no alto do Centro Histórico. Depois de quatro horas de andanças, aproveitei um dos bancos da Praça da Matriz para um rápido descanso, antes de encerrar o passeio curtindo os detalhes e os vitrais da Catedral Metropolitana. 



Foi um sábado perfeito! 




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