Nos hospedamos por alguns dias em Montalcino, no Val di Chiana. A escolha foi estratégica, para curtirmos um pouco a região vizinha, o Val d'Orcia e seus belos lugarejos. E numa de nossas escapadas pelas estradas da região, chegamos em San Quirico d'Orcia, que sequer estava em nosso roteiro. 


A cidade num todo conta com pouco mais de dois mil habitantes. É cercada por lindos campos, olivais e pequenas florestas de carvalhos. Nos detivemos apenas na cidade antiga, murada, com suas ruas calmas. Mulheres de um lado, homens de outro, algumas crianças, numa tarde fria e ensolarada. Acho que foi a primeira das pequenas cidades toscanas onde havia poucos turistas, mas muitos locais curtindo o sol, conversando animadamente. 





Considerada uma aldeia de origem etrusca, faz parte da Via Francigena - via de peregrinação que liga Canterbury na Inglaterra a Roma, passando pela França e Suiça. Na Idade Média foi importante paragem de peregrinos. Hoje mantém bem conservadas suas características originais.


Andávamos pelas estradas da Toscana, curtindo belas paisagens. 



Algumas curvas, muitas surpresas. Uma linda cidadela murada, no alto de uma colina e com seu grande portão de acesso. Daqueles momentos em que nos percebemos em outra época, como estranhos vindos do futuro.




Colle di Val D'Elsa nos recebeu silenciosa. Aparentemente uma pequena comunidade, mas que conta com pelo menos vinte mil habitantes, com origens no século X, se tornou mundialmente conhecida como a "Cidade de Cristal" no século XIX, sendo responsável, no auge, por 95% da produção de cristais da Itália.




Porto Alegre para mim será sempre uma capital interiorana, bem ao gosto de sua gente, unindo o novo ao antigo, com suas ruas tomadas de velhas árvores, estreitinhas para o que muitos gostariam de chamar de cidade grande, abraçada pelo rio e sempre tão cheia de surpresas. E dobrar esquinas sempre é surpreendente, pode proporcionar um olhar novo sobre o que sempre esteve ali, a margem, no desvio. 


Um domingo de sol, uma tarde clara de inverno e alguns passos, só do que precisamos hoje para encantar um pouco aos olhos, para encher o dia de poesia. 


O entorno de minha casa é cercado de escadarias, pois moro no Centro Histórico, bem no alto, um pequeno oásis pertinho do céu - bom, nem tão perto assim, mas do ladinho de Deus lá isso é, pois lembro disso a cada badalada dos sinos da Catedral Metropolitana. Além das intituladas Quatro Estações do Viaduto Otávio Rocha (para mim apenas escadarias da Borges), temos a abandonada escadaria da João Manoel e a da 24 de Maio - todas ligando a Rua Duque de Caxias as partes baixas da cidade. E hoje foi o dia de revisitar a da 24, a pequena que leva ao bairro Cidade Baixa. 





Acredito que já perceberam, possuo maneiras bem peculiares para comemorações. Então, bora participar de mais um blogversário? 

"...viver é melhor que sonhar..."

Aniversário é o momento de abraçar quem nos faz mais feliz todos os dias, de comemorar. E essa Casa está de aniversário e hoje é dia de Festa, de se preparar para mais uma Primavera!  

"...pois vejo vir vindo no vento, cheiro de nova estação..."

Quando o Mochilinha completou seu primeiro ano no ar, resolvi presentear com um pequeno depoimento pessoas queridas que chegaram na minha vida por caminhos que só as redes sociais viabilizam, que foram meus presentes naquele ano. Mas os meses passaram, a vida correu, exigiu, presenteou e mais um ano findou - e o que dizer nesse dia? 

O Mochilinha só existe em decorrência dos sonhos, da curiosidade e de muitas superações. Meu desejo de ir longe e perto, de ir além, de tirar dos livros e jogar na vida, tem tido ao longo dos anos uma companheira maravilhosa e hoje, nessa data especial, o presente é para aquela que corta estradas, atravessa rios e mares comigo, colaborando para que os sonhos ganhem as ruas, as estradas e que eu possa ir sempre além. E como se tudo isso já não bastasse, ainda dá uma mão e doa muito de seu olhar para o Mochilinha. 




Andava pensando em Paris, se escreveria a respeito de nossos dias perambulando pela cidade, dos museus, dos bares, de tudo ou de nada. Tem lugares que, por razões muito pessoais, nos dizem muito, mas nada especifico - só pelo conjunto, mesmo. 

Paris foi assim para mim. Viagem muitas vezes adiada, um encontro em muitos sentidos. O terceiro local que coloquei na minha listinha de preferências, ainda no inicio da adolescência, mas muito rodei antes de, finalmente, decidir que era o momento. 

Crianças sonham com a Disney? Pois bem, sonhava em conhecer Recife!! Sim,  ela entrou para meus planos ainda na infância, quando minha mãe falava que desde a juventude pensava em conhecê-la. A vida fez com que ela perambulasse por outras bandas e que eu acabasse conhecendo a cidade antes dela. E foi paixão - tanto foi que logo em seguida retornei, dessa feita a levando comigo. Virou figurinha carimbada, a paixão se transformou em amor, e esse, ao contrário daquela, é sempre eterno. 

O segundo lugar invadiu minha vida e meus sonhos nos anos 90, Machu Picchu! A oportunidade surgiu numa época de vacas bem mais magras, quando meus rendimentos brigavam com os boletos da faculdade. Como boa caprica, deixei para o futuro, pois ainda existiam muitas pedras no caminho a serem removidas na subida da montanha. A Vida me surpreendeu e hoje não posso me expor as altitudes e a bonitinha Inca virou encanto, daqueles que não se realizam. Não há arrependimento ou tristeza nas minhas palavras, só uma saudade daquilo que não vivi. Por isso digo que virou encanto! 

E a terceira era Paris. Essa foi uma paixão construída, de certa forma vivida, com encontros e desencontros. Enquanto todos estudavam inglês, lá estava eu estudando apaixonadamente francês, sonhando em francês, cantando em francês. Sim, em algum momento muito louco a menina de 11 anos resolveu compor uma música e inscrevê-la num Festival de Música Francesa. E lá fomos eu, minha mãe absolutamente apavorada e minha professora, visivelmente amedrontada. Todos acharam a letra linda: "Uma viagem de Porto Alegre a Paris", mas ninguém, absolutamente ninguém me ouviu cantá-la antes da apresentação. Já contei que sou tímida, não? Ao chegar ao auditório, lá estava eu, uma menina mirrada, com um violão embaixo do braço, ao lado de grupos bem estruturados e com banda, para me apresentar para experientes músicos. Sabe que pensando hoje, vejo que foi uma loucura? Mas naquela época, achei a coisa mais natural. Pois bem, sempre digo que foi quando aprendi que o "jamais é um tempo que não me pertence, que não consta do meu dicionário". Nunca existirá. Sentei naquele banquinho e dedilhei ao violão minha criação, minha primeira grande viagem interior. E foi lindo, pelo menos para mim. Bom, entre dez concorrentes fiquei na quarta posição - se não ganhei nada, meu espirito competitivo sobreviveu, afinal não fui a última. Saí feliz que só, a França continuava no coração. 


A Vida foi rolando e me afastei da paixão da adolescência. Por razões diversas, peguei um pouquinho de implicância, tipo namoro rompido. E assim Paris foi ficando de fora dos roteiros, uma desculpa aqui, outra ali. Até que ao fechar o roteiro de nossas férias a Ná pediu e eu cedi - poucos, bem poucos dias na Cidade Luz. 




O simbolo de minha paixão por Lisboa (sim, paixão) é o Arco da Rua Augusta. O considero lindíssimo, cheio de simbolismos, a abertura da cidade para o rio Tejo, para o Mundo e o portão de entrada por onde seríamos todos recebidos. 

Quando perambulo pela cidade o Arco é um de meus lugares de passagem, de várias passagens. Fica lindo a qualquer hora do dia ou da noite, a luz do Sol ou da Lua, o branco e amarelo de sua face externa sempre em contraste com o céu tão azul de Lisboa. 






Já contei que meus roteiros são abertos? Isso significa que sei as principais cidades, os meios de transporte que serão utilizados e a hospedagem. Sou muito preocupada com organização: horários, passagens, reserva de veículo e reservas hoteleiras - como digo, não acho que seja legal "dormir na praça". E de resto? Apenas algumas anotações sobre atrações, que nem sempre são visitadas, mesmo quando são consideradas "imperdíveis". Quando a tudo isso se soma um automóvel, daí que não tenho roteiro, mesmo. 


Em nossas andanças pela Itália, boa parte do percurso foi feito de carro, o que nos deu liberdade para irmos rodando, parando, fotografando, rodando mais um pouco, desviando do caminho aqui, ali, acolá. Uma delicia. Além de estradas tranquilas e lindas, as distâncias são ínfimas, especialmente para quem sempre rodou muito. E nessa vibe as surpresas foram se multiplicando.





Em outras oportunidades já referi que antes de advogada sonhava em ser arquiteta, mas que a vida rolou e o gosto se transformou em hobby, muito ligado a História das Artes. Minha memória claudicante nem sempre me auxilia com detalhes do tanto estudado em quatro longos anos do Curso de Técnico em Arquitetura e Decoração de Interiores, onde me dediquei quase que integralmente aos meandros da história da arquitetura e da decoração de interiores ao longo dos tempos - fora o prazer do desenho técnico de móveis, uma paixão. Então, quando saio a correr Mundo e vou tropeçando em elementos característicos, logo me encanto - me recordo dos sonhos e desejos da meninice, das infindáveis leituras noturnas e do quanto tudo aquilo ainda está em mim, com sentidos talvez diversos daqueles, já que hoje sem qualquer intuito profissional. E nada melhor para reavivar a memória do que caminhar e caminhar pelas cidades italianas, tão cheias de resquícios históricos, tão atemporais e de heranças étnicas variadas. Vamos divagar e brincar um pouquinho?

A Itália, para mim, é uma festa para os sentidos, para todos os sentidos. 

Um dos elementos que estão pelas ruas e que muito me encantam são as Aldravas, aqueles simpáticos batedores de portas, tão característicos em cidades italianas e espanholas. Em abril, quando rodamos de Veneza a Roma, parando de cidade em cidade, andando por tantas ruas, eles saltavam aos olhos.

Muito mais que a beleza de muitos deles, gosto dos aspectos históricos, muitas vezes religiosos, que possuem. Há todo um lado social envolvido no uso de tais elementos e que muitas vezes nos parecem apenas decorativos. Do ponto-de-vista prático, são peças móveis em metal, bronze ou ferro fundido, com origem na Idade Média, com formas diversas e que fazem as vezes de campainhas. 


Colle di Val D'Elsa




Toscana!!! Que experiência maravilhosa, rodar por aquelas estradas, ir parando em cidades tão simples, onde a beleza está na permanência, na força. Mas contei que não curti Siena? Pois é, mas tive bons momentos na cidade, experiências com sabores diversos que a tornaram inesquecível em minha história. Vinhamos rodando, numa vibe maravilhosa, daí chegamos em Siena e não gostei da cidade - nem de fotografar nas noites, acreditem. Sabem aquele negócio de antipatia? Pois é, ela me recebeu ventosa e gelada e eu dei de ombros, torci o nariz.


Dependendo por onde andamos, tudo pode ficar bem mais escuro...


Adoro ver a Vida do alto, embora tenha uma inimizade inquestionável com as alturas. Mas para fotografar, topo encarar o temor e as dores-de-cabeça, na boa. Agora, quando leio a quantidade de degraus que necessito enfrentar para realizar meus desejos, daí esmoreço - já não é o medo, é a realidade que me tira do sonho e lembra que não posso. Nas minhas pesquisas, vou logo procurando a informação acerca de quantos degraus levam ao cume - normalmente bem mais do que os 40, 50 (quase) possíveis. 

Após um final de tarde e uma noite, o dia amanheceu claro, frio e ventoso. Resolvemos encarar e rumamos a Piazza del Duomo, em busca de encantamento e o encontramos. O complexo arquitetônico formado no entorno da Catedral é belíssimo, sem contar que apenas os detalhes da própria são suficientes para meses de análise e estupefação. Mas nossas pretensões eram bem mais razoáveis. Escreverei acerca da Duomo e do Museu Santa Maria della Scala, em outro momento, pois merecem divagações bem mais elaboradas. Agora, desejo apenas narrar minha pequena superação e meu presente.




Após visitarmos a Duomo e o Batistério, resolvemos fazer um tour pelo Museo dell'Opera - que não pode ser fotografado. As dependências do Museu ocupam construção que seria a nave direita da "nova Catedral", no projeto de expansão do século XIV. Em seu interior grande parte das obras que ornavam a Duomo e que recebem nesse espaço cuidados preservacionistas - obras do pintor e primeiro mestre da escola de Siena, Duccio di Buoninsegna, do escultor e arquiteto Giovanni Pisano e de Donatello. Há obras belissimas para contemplação, mas confesso que ao longo de todo o percurso meus pensamentos estavam na decisão de subir ou não até o Panorama del Facciatone - o terraço de onde se tem uma visão privilegiada da cidade. 




Todo privilégio tem seu preço - no caso, muitos e muitos degraus: 131, em espiral. Bom, enquanto chegava a uma conclusão acerca da possibilidade de realizar a empreitada, fui entrando na fila, eis que cada grupo sobe e permanece por 10 minutos contemplando a vista. Bom, decisão tomada, lá fomos nós.




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